Baseado numa peça de Tennessee Williams, De Repente, no Último Verão é um excelente filme sobre a frustrada tentativa de uma mulher de submeter sua sobrinha a uma lobotomia, com o fim de evitar que ela viesse a revelar alguns segredos sobre o passado do seu filho assassinado.
Realizado pelo veterano cineasta Joseph L. Mankiewicz, o filme trata de temas sérios e difíceis como doenças mentais, assassinato, canibalismo e homossexualidade.
Além do bom trabalho de Mankiewicz, De Repente, no Último Verão conta com uma ótima trilha sonora, uma bela fotografia de Jack Hilgyard, com uma boa direção de arte e com as magníficas interpretações de Elizabeth Taylor e Katharine Hepburn, seguidas pelo trabalho desenvolvido por Montgomery Clift.
Indicadas ao Oscar de Melhor Atriz, Elizabeth Taylor e Katharine Hepburn perderam a estatueta para a francesa Simone Signoret, por sua atuação em Almas em Leilão, de Jack Clayton.
A História
New Orleans, 1937 – Dr. John Cukrowicz realiza uma lobotomia num hospital mal aparelhado para esse tipo de cirurgia. Ele é um jovem neurocirurgião que vem fazendo seu nome pelo país afora, ao usar essa nova técnica no tratamento de pessoas esquizofrênicas.
Desgostoso com as precárias condições do hospital, ele ameaça ir embora se alguma coisa não for feita. É quando surge uma rica viúva, a Sra. Violet Venable, propondo uma doação de US$ 1 milhão em troca de uma lobotomia a ser feita em sua jovem sobrinha. A garota, Catherine Holly, está supostamente acometida de graves problemas neurológicos e mentais, desde que voltou de suas férias na Europa onde testemunhou o bárbaro assassinato do primo que a acompanhava.
Dr. Cukrowicz concorda em receber as duas mulheres para uma entrevista preliminar. A Sra. Venable mostra-se uma pessoa arrogante, inteligente e altamente obcecada pelo filho morto. Ela só fala sobre o seu brilhante filho, Sebastián e está arrasada desde a morte dele. Entretanto, ao conversar com a jovem Catherine, que se mostra vulnerável, amargurada, mas confiante, ele conclui que ela tem sérios problemas a serem tratados sem a necessidade de ser submetida à cirurgia.
Quando Catherine é internada em seu hospital, fica mais claro para o Dr. Cukrowicz que a Sra. Venable não está interessada na saúde da sobrinha e, sim, tentando usá-lo para fazer com que a memória da jovem venha a ser afetada, de tal forma que ela não possa revelar as circunstâncias em que o filho foi morto.
Traumatizada com o ocorrido, Catherine bloqueou suas lembranças, mas o Dr. Cukrowicz está determinado a desenterrá-las, mesmo que isso custe sua carreira. Assim, depois de um longo tratamento, ele consegue devolver a saúde mental da jovem, quando ela lhe fala sobre o terrível incidente ocorrido durante suas últimas férias na Europa.
Num extenso monólogo, ela descreve o bizarro assassinato do primo homossexual quando viajavam pela Espanha. Segundo ela, Sebastián a usava para atrair os jovens que se tornariam seus parceiros e, numa das ocasiões, eles partiram para cima do primo, assassinando-o e canibalizando seu corpo.
Na cena final, referindo-se a si própria na terceira pessoa, Catherine diz ao Dr. Cukrowicz que ela voltou a um presente menos doloroso: “Ela está aqui, Doutor. A srta. Catherine está aqui !”
A Dublagem da AIC
Sem dúvida uma das melhores dublagens de filmes da AIC. Há indícios de que o diretor de dublagem foi o próprio Dráusio de Oliveira, uma vez que sempre fez uma grande parceria com Sandra Campos, desde que que foi escalada, por ele, para a série Terra de Gigantes.
Seja como for, esta dublagem realizada já em meados de 1971, traz uma qualidade extraordinária. Há nela o retorno de Gessy Fonseca para São Paulo, após a falência da TV Cinesom-RJ; Ézio Ramos ainda uma voz recente na dublagem, mas com excelente qualidade interpretativa; o diretor de dublagem ainda se valeu de experientes dubladores que participavam da AIC, como Judy Teixeira, Helena Samara e Eleu Salvador.
A dublagem de Judy Teixeira, uma profissional que nem sempre dublou personagens principais, demonstrou o seu maravilhoso trabalho ao fazer a atriz Kattarine Hepburn, uma aristocrata, insensível e egoísta. Judy Teixeira demonstrou toda a arrogância com a interpretação pausada, fria que a personagem exigia. Uma dublagem exemplar!
Dráusio de Oliveira interpreta um médico repleto de incertezas, demonstrando com a voz a insegurança, distante de personagens fortes e decididos como o próprio capitão Burton de Terra de Gigantes ou Marcelus do filme O Manto Sagrado. No transcorrer da ação vai, paulatinamente, ocorrendo uma transformação, a fim de curar a sua paciente.
Mesmo com todas esses trabalhos de vozes primorosas, a dublagem da personagem da atriz Elizabeth Taylor é, simplesmente, algo excepcional! Sandra Campos domina totalmente a interpretação demonstrando a bipolaridade da personagem. Tranquila, agitada, nervosa ou com medo, Sandra Campos a dubla com uma categoria ímpar. Na realidade, apesar de Cleópatra ser um de seus trabalhos mais famosos, é com esta dublagem que verificamos o seu quilate profissional.
O roteiro do filme nos prende a atenção, mas à medida em que surge a dublagem de uma personagem difícil, mergulhamos na interpretação da dubladora para Elizabeth Taylor. Provavelmente, talvez, a melhor dubladora da grande atriz!
Felizmente, a dublagem foi preservada e até saiu em DVD. Vale a pena assistir a este grandioso trabalho da AIC
Elenco de dublagem:
Sandra Campos: Elizabeth Taylor (Catherine Holly)
Judy Teixeira: Katharine Hepburn (Sra. Violet Venable)
Dráusio de Oliveira: Montgomery Clift (Dr. John Cukrowicz)
Eleu Salvador: Albert Dekker (Dr. Lawrence Hockstader)
Gessy Fonseca: Mercedes McCambridge (Sra. Grace Holly)
Ézio Ramos: Gary Raymond (George Holly)
Helena Samara: Mavis Villiers (Srta. Foxhill)
Noely Mendes: Joan Young (Irmã Felicity)
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