A dublagem da AIC para a animação Alice no País das Maravilhas produzida pela Hanna-Barbera em 1966.
A dublagem brasileira ao longo de sua história sempre adaptou para português muitos musicais, optando por deixar as canções na sua versão original e colocar legendas. Contudo, nas produções infantis, essa prática mudava, escolhendo assim adaptar as canções para o português.
A Disney ao longo de sua trajetória na dublagem sempre escolheu adaptar as canções para o nosso idioma, buscando aproximar a versão nacional o máximo possível do original e sendo, geralmente, o dublador substituído por um cantor. Algumas vezes o próprio dublador por ter formação de canto, também interpretava as músicas e, felizmente, na maioria das vezes as interpretações foram muito bem feitas.
Alice no País das Maravilhas é uma produção Hanna-Barbera de 1966 com 50 minutos de duração, direção de Alex Lovy e canções compostas por Charles Strouse e Lee Adams. As orquestrações são de Marty Paich e a trilha sonora incidental de Hoyt Curtin.
Na trama a menina Alice precisa fazer uma resenha do livro “Alice no País das Maravilhas” de Lewis Carroll, mas entra no aparelho televisor e vai para no país das maravilhas. Lá, ela encontra o Gato Sorridente, O Chapeleiro Doido/Maluco, a Rainha de Copas e muitos outros personagens.
Quando a AIC cantou.
Nas vozes originais tivemos: Janet Waldo, Howard Morris, Sammy Davis Junior, Hedda Hatter, Daws Butler, Don Messick, Zsa Zsa Gabor entre outros.
No Brasil, a produção foi dublada entre 1967 e 1968 na Arte Industrial Cinematográfica – AIC de São Paulo. Essa dublagem é considerada como um dos pontos altos da trajetória da AIC na história da dublagem brasileira. Tamanha foi a preocupação com a adaptação para português do desenho que a Hanna-Barbera mandou dois representantes para acompanharem a dublagem.
Sobre essa adaptação comenta o dublador Carlos Campanille: “Lembro desse trabalho, sim. Um dos grandes trabalhos da AIC”. O veterano dublador complementa: “Gostei muito da dublagem e das músicas, assistindo na TV. Creio que a direção (artística) foi do Older, sim e o Olney fez uma serpente (excelente), o (Waldir) Guedes fez o Gato (ótimo), enfim, a dublagem e as músicas foram muitíssimo bem cuidadas! Um trabalho quase perfeito”.
Dalete Cunha que trabalhava na marcação e checagem da dublagem na AIC entre os anos de 1964 e 1974, comenta: “Eu tive muita felicidade por trabalhar na ‘Fase Áurea’ da AIC e da dublagem que foi nas décadas de
1960 e 1970. A maioria dos desenhos e séries iam para a AIC, tamanha a fama e qualidade que ela tinha. Grandes atores trabalharam na AIC como: Dennis Carvalho, Lima Duarte, Tony Ramos, Osmar Prado e outros. A AIC funcionava 24 horas por dia e só fechava aos domingos. Realmente, tive muita sorte e felicidade em ter assistido e convivido com grandes atores/dubladores e grandes técnicos também”.
Direção artística de Older Cazarré.
Cabe destacar a presença de Older Cazarré, então Diretor-Artístico da AIC e um dos responsáveis pelas dublagens de sucesso da Hanna-Barbera na AIC. Ele supervisionou, dirigiu e dublou o desenho e era considerado homem de confiança da produtora americana no Brasil. Em Alice, Cazarré dubla o Coelho Branco.
Sobre a direção de Cazarré Dalete comenta: “O trabalho do Older Cazarré como diretor era impecável. Ele foi um dos maiores e melhores diretores. Cazarré montou o que acredito ser a primeira escolinha de dublagem do país onde formou muitos dubladores que entraram no mercado”.
Campanille acrescenta sobre o trabalho dos Cazarrés na AIC:: “Não tem palavras para descreve-los: excelentes como pessoas e profissionais de altíssima categoria. Emprestavam seu talento de forma genial, tanto para drama e comédia, e se superavam em seus personagens em desenhos. Eram geniais em tudo que faziam. Falar mais o quê? Sinto muita saudade deles e de tantos colegas maravilhosos que já se foram”.
A apresentação foi de Carlos Alberto Vacarri, que neste momento havia se tornado o apresentador oficial do estúdio e que realizava uma prática em desuso naquela época: apresentar o elenco de dublagem.
O elenco contava com as vozes da nata do estúdio paulista
na época: Cazarré, Waldyr Guedes, Ary de Toledo, Helena Samara, Deise Celeste, entre outros. O genial Guedes aqui faz três vozes, dublando o Gato Sorridente, o Defensor de Alice no julgamento e Barney que aparece numa participação junto com Fred dos Flintstones. Aliás, nesta época a animação da família tinha sido dublada em sua última temporada, com
Neville George (Barney) e Alceu Silveira (Fred), mas aqui Guedes volta a dublar o Barney.
É ótimo ver e ouvir as grandes vozes da AIC cantando na animação, não esquecendo que a maioria delas vinha do rádio ou do circo, que tinha teatro e show de variedades, portanto, a maioria dos dubladores da época, também sabia cantar.
Cantando destacamos: Deise Celeste, Waldir Guedes, Older Cazarré, Raimundo Duprat e as surpresas: Alceu Silveira e Ary de Toledo.
As versões das canções são de Jorge Eduardo. As letras das versões em português estão muito bem adaptadas e respeitando os originais em inglês. Como exemplo destacamos a canção tema da animação “What´s that nice kid like you” que em português virou “O Que Você Quer Aqui”. No original o trecho da letra é assim:
What´s that nice kid like you,
Doing in the place like that.
What´s that nice kid like you,
So low and so far from home.
How is that nice kid like you,
Get in a hit to home.
What baby blues or that mellow smile,
And the minute you walk in like that, she got a style.
What´s that nice kid like you,
So low and so far from home.
Em português a letra ficou:
O que você faz aqui,
Sozinha num lugar assim.
Como é que veio parar,
Tão longe, longe do seu lar.
Como é que ficou assim,
Menina conte para mim.
Com esses olhos claros
E esse sorriso lindo,
Ao ver sua beleza,
Eu disse é uma princesa.
O que você quer achar,
Tão longe, longe do seu lar.
O texto da dublagem é muito feliz com vários trocadilhos e adaptações para a realidade brasileira. Por exemplo: o Coelho Branco fala Angú de Ginú; o Rei explica porque está no trem: “Os Reis precisam fazer uns ‘bicos’ para ganhar um dinheirinho extra”; Durante o torneio de críquete, o narrador fala: “temos o meia direita e meia esquerda e a banda passa de centroavante”.
Versão Brasileira: AIC
Direção musical. Jorge Eduardo
Apresentação: Carlos Alberto Vacarri
Direção de dublagem: Olney Cazarré