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Baú da Dublagem: A clássica dublagem da AIC para o filme O Sol é Para Todos

Luiz Pini não deixa nada a desejar ao fazer a voz de Gregory Pack em uma das suas melhores performances.

Uma das melhores atuações de Gregory Pack.

Alabama, década de 1930. Os Estados Unidos enfrenta e Depressão. A pequena Jean (Mary Badham) é uma menina inteligente que tem no seu pai o grande herói.

Atticus Finch (Gregory Peck) é um advogado viúvo que cuida de seu casal de filhos pequenos. Idealista e honesto, ele será o defensor de Tom, um negro acusado de estuprar uma mulher branca. Num júri composto apenas de brancos, todos sabem qual será o veredicto. Mas o advogado não desistirá de tentar provar que Tom é inocente. Além desse julgamento, a amizade de Jean com Boo Radley (Robert Duval), um deficiente mental que vive encarcerado em sua casa, vai fazer com que a menina passe a ver o mundo sob uma nova ótica e descobrir que o mundo dos adultos é mais cruel do que parece.

Baseado em um dos grandes best-sellers na época, “To Kill a Mockingbird” é um filme que foca em seu ambiente de cidadezinha pacata e o convívio de seus moradores através do ponto de vista de uma criança que aprende que seu mundo não é feito apenas de coisas boas.


Um de seus personagens mais ilustres é o advogado Atticus Finch, interpretado otimamente por Gregory Pack, o qual além de simbolizar uma pessoa segura de si e determinada de seus deveres perante sua sociedade, também é um grande exemplo de educação para seus filhos. Além de sua atuação, as crianças também causam boa impressão nos seus primeiros trabalhos de uma infância sulista cheia de ingenuidade e aventuras.

Um pouco diferente do retrato familiar idealista americano, boa parte do que nos é mostrado tem a possibilidade de criar vários questionamentos sobre qual é a situação da família contemporânea independente de onde ela está localizada no mundo a fora.

Mesmo que a cada cinco minutos de filme se tenha um tema abordado, o mais enfatizado é o preconceito racial que hoje tentamos eliminar. Nele é possível perceber que mesmo que as pessoas tenham as mesmas condições financeiras e culturais, elas sempre tentam encontrar algo para classificá-las como superiores agindo de forma egoísta e sem respeito.

O filme ganhou 3 Oscars, sendo o de melhor ator para Gregory Peck. Obteve também nas categorias de roteiro e fotografia.

Sem dúvida uma das melhores atuações de Gregory Pack.

Vozes brasileiras.

Dublado no início de 1968 pela AIC, este excelente filme recebeu uma dublagem muito bem cuidada e com desempenhos extraordinários de praticamente todos os dubladores.

Todos estão ótimos, mas sem dúvida alguma o trabalho de Luiz Pini, dublando Gregory Peck, é digno de aplausos pela interpretação, pausa das falas nos dando a nítida impressão de que sua voz é a do próprio ator.

Além de Luiz Pini, há as extraordinárias dublagens realizadas por Gilberto Baroli (ainda no início de carreira) como o réu Tom Robinson e também a excelência de Isaura Gomes dublando a jovem que, supostamente, teria sido abusada sexualmente.

No conjunto, a dublagem é intocável, contendo também os trabalhos de Zezinho Cútolo e Maralise Tartarine dublando os filhos do advogado. Há ainda no elenco de dublagem as presenças de José Soares, Garcia Neto, Noely Mendes, Francisco Borges, entre outros.

A dublagem da AIC nos remete a toda dramaticidade, a qual o filme traz, mas também, nos momentos mais leves, a dublagem é muito bem realizada, dando ao telespectador um grande prazer ao assistir.

Parte do elenco de O Sol é Para Todos.

A Redublagem.

No início dos anos 2000, a Universal pretendia lançar O Sol é Para Todos em DVD, mas constatou que havia um problema técnico na dublagem.

De fato, apesar do áudio estar perfeito, sem ruídos ou chiados, cerca dos últimos 25 minutos do filme apresentam uma falta de sincronia, ou seja, a fala do dublador está mais adiantada do que quando o ator abre a boca.

Este fato foi uma consequência da dublagem, ainda magnética, colocada ao lado da película do filme ter se desgastado com o decorrer do tempo, aos maus tratos recebidos por emissoras, mas, principalmente, em decorrência dos filmes, naquela época, serem arquivados em latas, as quais não eram adequadas para preservar a dublagem, pois ficavam expostas às ferrugens, calor excessivo, etc.

A Universal, sistematicamente, tem lançado seus filmes somente legendados e este não fugiria a esta regra. No entanto, a Rede Globo ainda exibia, eventualmente, alguns filmes em preto e branco nas madrugadas.
Sendo assim, a emissora requisitou a redublagem, a qual sendo já digital também acompanha os dvds que estão à venda no mercado.

Somos sempre contrários às redublagens mal realizadas e, principalmente, pelo fato do trabalho original ser esquecido e apagado completamente. Porém, esta redublagem se fez necessária, embora para os fãs da AIC, os minutos finais do filme, mesmo sem sincronia, não importem em se tratando da dublagem como um todo.

A redublagem foi realizada no início da última década pelo extinto estúdio Herbert Richers, o qual ainda apresentava trabalhos com qualidade, e o filme obteve uma excelente tradução e apresentou dubladores comprometidos com a boa interpretação.

A dublagem realizada na Herbert Richers é excelente também, mas, é lógico que, sentimos um pouco de tristeza, ao saber que houve uma dublagem original de extraordinária qualidade e que, devido à falta de responsabilidade do estúdio, ficou com problemas.

Seja como for, O Sol é Para Todos é um filme que vale a pena ser assistido, mesmo redublado, ou até legendado. Fica aqui, para os fãs da AIC, adicionar mais uma extraordinária dublagem mal tratada e, praticamente, perdida.

Elenco de Dublagem:

*Gregory Peck (Atticus Finch): Luiz Pini.
*Mary Badham (Jean): Maralise Tartarine.
*Philip Alford (Jim): Zezinho Cútolo.
*James Anderson (Bob Ewell): José Soares.
*Collin Wilcox Paxton (Mayela Violet Ewell): Isaura Gomes.
*Brook Peters (Tom Robinson): Gilberto Baroli.
*Paul Fix (Juiz Taylor): ???
*Rosemary Murphy (Maudie Atkinson): Noely Mendes.
*Frank Overton (Xerife Heck Tate): Francisco Borges.
*William Windom (Promotor): Garcia Neto.
*Estelle Evans (Calpurnia): Gessy Fonseca.
*Alice Ghostley (Stephanie Crawford): Helena Samara.
*Bill Walker (Reverendo Sykes): Borges de Barros.
*Robert Duvall (Arthur): o personagem não fala.
*Kim Stanley (Jean adulta narrando): Maralise Tartarine.
*Narração de abertura: Carlos Alberto Vaccari.

Marco Antônio dos Santos
Marco Antônio dos Santos
Professor, pesquisador de dublagem e responsável pelo blog Universo AIC.

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