Trabalho primoroso da BKS com direção de Flávio Dias, a primeira dublagem de Conta Comigo permanece viva até hoje!
Uma jornada em busca da maturidade.
Mais uma adaptação para cinema de um romance de Stephen King, Conta Comigo (Stand by Me) possui uma particularidade, todos os monstros e derramamento de sangue, comuns às suas obras, são colocados de lado para dar lugar a uma história sobre o valor da amizade e o processo de amadurecimento.
Baseado num conto que foi originalmente publicado em 1982 como parte da coletânea Quatro Estações, “Outono da Inocência – O Corpo” (The Body – Fall From Inocence), o filme, mesmo sendo produzido com poucos recursos, alcançou uma excelente repercussão em torno do mundo, sendo considerado um dos melhores trabalhos do diretor Rob Reiner.
A história se desenrola em torno de quatro garotos de doze anos de idade no verão de 1959. Eles vivem numa cidadezinha do Oregon chamada Castle Rock. Gordie Lachance é o protagonista tímido que passou a ser ignorado pelos pais principalmente após a morte do irmão.
A triste vida de Gordie começa a fazer sentido quando ele sai à procura de Ray Brower, um menino que morreu atropelado por um trem nas redondezas e as autoridades ainda não o acharam. Certo de compensar o vazio emocional que carrega por não ter visto seu irmão antes do sepultamento, ele se junta aos amigos Vern, Teddy e Chris e viaja em busca de fama na esperança de encontrar o corpo.
Cada um dos amigos de Gordie também carrega um problema pessoal. Vern Tessio vive aterrorizado pelo irmão mais velho; Teddy Duchamp venera o pai mesmo esse sendo um lunático veterano de guerra internado num sanatório; e Chris Chambers é filho de um alcóolatra e irmão de um presidiário, que leva a culpa de ter roubado o dinheiro do leite da escola.
O filme tornou-se um sucesso em meados dos anos 80, mas gerou muito trabalho para começar a ser produzido pois Stephen King estava relutante em ceder os direitos da história, assim, os roteiristas Bruce A. Evans e Raynold Gideon quase não conseguiram produzir o longa. Rejeitado por vários estúdios, o projeto acabou no Embassy, considerado na época o último recurso antes da produção ser abandonada.
No elenco Will Wheaton foi escalado para o papel principal, enquanto o estreante Jerry O´Connell, que só havia feito alguns comerciais, foi escolhido para interpretar Vern. Corey Feldman foi considerado o único capaz de expressar a raiva de Teddy e aos 15 anos de idade, River Phoenix ficou com o papel de Chris Chambers. Um elenco que funciona perfeitamente, com uma química poucas vezes vista na telona. A cereja no entanto está na narração de Richard Dreyfuss.
Conta Comigo chegou aos cinemas em agosto de 1986, primeiro em poucas salas e a partir do dia 22 em circuito, arrecadando 52 milhões de dólares e uma indicação ao Oscar de melhor roteiro. O filme também impulsionou a carreira dos quatro garotos, estabeleceu River Phoenix como talento em ascensão e Rob Reiner como diretor, que agradeceu batizando sua produtora de Castle Rock.
A Dublagem da BKS.
Mesmo chegando em VHS ao Brasil no final dos anos 80 o filme só recebeu sua dublagem em 1990 quando foi comprado pela Rede Globo. Porém, a emissora demorou a exibi-lo e quando fez foi sem muita badalação, apresentando o filme no horário da madrugada do dia 11 de maio de 1991, dentro do Corujão.
Para dar vozes brasileiras ao longa a Colúmbia Tristar Filmes do Brasil o encaminhou à BKS, estúdio conceituado de São Paulo na época, apesar da limitação nos equipamentos. Porém, o que faltava em qualidade de som, sobrava na de interpretação e profissionalismo dos dubladores.
A direção da dublagem ficou nas mãos de Flávio Dias, para muitos conhecido por ter emprestado a voz a inúmeros consagrados personagens, incluindo Beakman (O Mundo de Beakman). Flávio ficou livre para escalar o elenco e escolheu para o protagonista Gordie o dublador Carlos Laranjeira, então com 33 anos de idade, mas detentor de um falsete extraordinário para garotinhos.
Eduardo Camarão, dono de uma voz um pouco mais grave ficou com o mais velho da turma, Chris Chambers; Com 16 anos de idade, Wendel Bezerra combinou perfeitamente com Teddy Duchamp e dá um show, principalmente nas cenas onde o garoto está irritado. Mas sem dúvida o ponto alto da dublagem dos quatro meninos está na performance engraçadíssima de Zezinho Cútolo como Vern Tessio, pois a voz do dublador com um falsete um tanto incomum, faz do personagem o responsável pelos momentos de descontração da trama. Dias também concorda que a atuação de Cútolo impressiona: “a voz ficou perfeita no meu ponto de vista”.
A tradução consegue manter os diálogos sem perda de conteúdo, no entanto, suaviza principalmente os palavrões pronunciados pelos meninos, e dribla uma classificação indigesta que poderia surgir na época por conta de linguagem imprópria. Assim, o filme consegue passar facilmente com Livre.
A Redublagem.
Para o lançamento de Conta Comigo em Bluray foi produzida uma redublagem pela Dublavídeo, essa já consta na Netflix, Crackle e em exibições do Paramount Channel, ameaçando a dublagem original de cair no esquecimento. Flávio Dias comenta: “Redublagem é sempre um problema. Se há algum problema técnico na qualidade, seja qual for, deviam manter as duas versões. Até pra que se pudesse fazer comparações: ‘olha como se interpretava e olha como se interpreta hoje’.”
Mesmo contando com nomes competentes como Bruno Marçal, Raphael Ferreira, Pedro Alcântara, Matheus Ferreira e Felipe Grinnan, o trabalho desenvolvido pela Dublavídeo não supera a excelência do original realizado nos anos 90. “Eu acho uma pena que tenham apagado uma dublagem feita com muito carinho e com muito amor. Eu adorava a dublagem de Stand by Me”, lamenta Flávio Dias.
Porém, preservada no lançamento do filme em DVD e ainda exibida em alguns canais por assinatura, o trabalho da BKS se mantém firme e continuará por muito tempo ainda no coração de quem gosta de Conta Comigo.