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Baú da Dublagem: Kimba, o desenho que inspirou O Rei Leão.

O anime de Osamu Tezuka chegou ao Brasil com vozes da AIC.


Em 3 de novembro de 1928, nascia Osamu Tezuka, o aspirante a mangaká que quase desistiu da ideia por ser uns dos pioneiros no assunto, numa época em que guerras e certas repressões não proporcionavam às pessoas a mesma liberdade que temos hoje.

Com a invejável marca de mais de 700 mangás que contam toda a sua trajetória nos quadrinhos (a qual boa parte não foi traduzida para o ocidente), Osamu ajudou e muito a popularizar e firmar como cultura os mangás que são lidos hoje, influenciando todos os autores que vieram depois dele (aliás, o mesmo vale para os animes).

Na década de 1950, Tezuka já havia se consagrado com diversos personagens de seus mangás no Japão, a imagem de seu trabalho mais famoso é Astroboy, que estreou em mangá em 1952, ganhando uma adaptação em anime em 1963, a história do menino robô foi a primeira série animada da TV japonesa.

Pelas mãos da Mushi Productions, Kimba marcou época sendo a primeira animação a figurar na telinha dos japoneses totalmente a cores.


Em 1994 criou-se uma polêmica em torno do lançamento do filme O Rei Leão, os fãs japoneses notaram que as semelhanças com a obra nipônica não eram poucas e levantou-se a ideia de que a Disney teria se inspirado (até demais) na obra de Osamu para o filme. Verdade ou não, até hoje nada foi confirmado ou desmentido pela Disney.

A História.


A história, resumidamente, é a narrativa de seu pai um leão chamado Panja bem sucedido na selva, que por um acaso do destino é capturado por caçadores, juntamente com Lia, mãe de Kimba. Lia é levada para um navio onde dá a luz à Kimba, e ensina-lhe os ideais do seu pai, os quais ele põe em prática quase imediatamente, tornando-se amigo dos ratos do navio. Durante uma tempestade que acabaria por virar o navio, ela diz para ele fugir e voltar para a selva para ocupar o seu lugar de direito no trono do pai.

Kimba consegue fugir, prometendo voltar para a selva, mas se perde no oceano e vai parar na civilização, onde anda por muitas cidades como Londres e Paris e conhece bons e maus humanos, além de admirar-se com as tecnologias dos homens.

Depois de certo tempo, Kimba consegue chegar à África onde encontra problemas: o leão Bobo havia se proclamado rei e não gosta de saber da volta do herdeiro legítimo.

O desenho chegou ao Brasil dublado por talentosas vozes da AIC.

Kimba reconquista o reino, não sem luta, e a partir daí, tenta tornar o mundo animal mais civilizado, em especial, fazendo com que não mais se coma carne e ensinando os animais a falar como humanos. Há resistência a essas mudanças, mas o novo rei conta com muitos aliados como Poly, o papagaio, Bucky o antílope, André, o mandril e diversos outros animais, assim como o humano Jonathan. Até que Kimba se torne adulto passam por diversas aventuras.

Trata-se de uma história que faz muito sucesso entre as crianças, proporcionando diversos tipos de conceitos a serem apreendidos, tais como: lealdade, sinceridade, mentira e verdade, preconceitos, bondade e maldade, etc.

Kimba no Brasil.


Kimba, o Leão Branco teve um total de 52 episódios, produzidos entre (1965-1966), e estreou no Brasil em fins de 1967 pela extinta TV Tupi, com a dublagem da AIC. Depois de exibida pela TV Tupi, na qual não despertou muito interesse, devido ao roteiro muito original para a época. Já em 1969 Kimba estava sendo exibido pela TV Cultura de São Paulo, junto com a estreia da emissora, aos domingos à tarde.

Na TV Cultura, a animação ganhou um maior destaque pelos roteiros e por não necessitar concorrer com os demais desenhos animados americanos. Na época, os desenhos japoneses ainda não conseguiam uma penetração no mercado televiso internacional satisfatória. Assim, Kimba fez sucesso na TV Cultura sendo exibido cerca de dois anos. Após o reconhecimento do público adulto, a TV Tupi voltou a exibí-lo entre 1973 a 1975, já agora a cores.

A Dublagem da AIC.


Infelizmente, após a sua última exibição pela TV Tupi, Kimba jamais retornou às emissoras abertas. Sendo assim, a enriquecedora dublagem da AIC se perdeu totalmente, assim como de diversos outros desenhos japoneses da época, que não possuíam boas distribuidoras.

Em 1º de dezembro de 1993, quando conversamos com a dubladora Maria Inês, mostramos algumas cenas e temos alguns nomes de dubladores, os quais ela se recordou que fizeram o trabalho em conjunto.

O jovem leão Kimba foi dublado por Maria Inês, o papagaio Poly (Koko, no original) recebeu a voz de  Amaury Costa, a jovem gazela Bucky (Tomy, no original), o mandril sábio Daniel (Mandy Mandrill, no original) foi feito por Mário Jorge Montini, Léia (Liya, no original) teve a voz de Magda Medeiros, o leão inimigo Bubu recebeu a voz de Luiz Pini, já Jonathan (Kenichi, no original), houve uma dúvida se teria sido Marcelo Gastaldi ou Olney Cazarré.

A Redublagem.


Na década de 1990, com o advento da TV a cabo, muitos desenhos foram redescobertos, principalmente os mais antigos de origem japonesa. Entretanto, a redublagem se fez necessária e a extinta Fox Kids, talvez tenha sido a primeira emissora a cabo a trazer Kimba, tendo também já sido exibido pelo canal Boomerang. Também havia o objetivo do lançamento para a venda em DVDs.

Em face de tudo isso, a redublagem foi realizada pelo estúdio Sigma, de São Paulo. Apesar de acreditarmos que toda redublagem é uma transgressão a uma outra obra artística, há casos em que ela se faz necessária, como o de Kimba. O estúdio Sigma fez uma redublagem bem equilibrada, a qual não desperta, em momento algum, o desespero em ouvir o áudio.

Podemos afirmar, com certeza, de que foi realizado um trabalho com profissionalismo, o que falta demais atualmente em diversas redublagens e até novas dublagens que encontramos.

Os dubladores que participaram da redublagem não deixaram os fãs da dublagem da AIC em pleno saudosismo. Evidentemente, os fãs sempre prefirirão ouvir a dublagem original, porém o descaso na conservação de muitas produções dubladas, tornou isso impossível.

Marco Antônio dos Santos
Marco Antônio dos Santos
Professor, pesquisador de dublagem e responsável pelo blog Universo AIC.

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