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A troca de dubladores que desagrada os fãs.

Quem são os verdadeiros “donos” dos programas? Por que a mudança de vozes acontece?


Desde pequeno sempre achei incrível os personagens dos filmes, séries e desenhos falarem em português. Eu já sabia que eles eram estrangeiros, mas mesmo assim falavam o nosso idioma! Com o tempo descobri que as produções passavam por um processo para chegar até nós, com todos os personagens falando fluentemente o português. Este processo é conhecido como dublagem.

Um dos fatos curiosos da dublagem brasileira é que os personagens que gostamos ou mesmo os astros e estrelas de cinema, mudam de vozes durante a produção. Por que afinal de contas isso acontece? Por vários motivos é a resposta.

É importante saber que o filme pertence a alguém que pode ser um canal de TV aberta ou fechada, uma distribuidora. Este “dono” escolhe onde seu filme irá ser dublado, ou seja, qual o local onde todo esse processo será realizado. Logicamente, que muitos são os fatos que influenciam esta escolha, mas principalmente o preço e o fato desse estúdio, local onde o filme será dublado, já ter feito outros trabalhos para este “dono”.

Isto implica que atores que tenham sido dublados por determinadas vozes que estão em uma das praças onde ocorre a dublagem (leia-se eixo Rio-São Paulo) tenham suas vozes mudadas, sendo dublados por outros atores. Um bom exemplo é o ator Tom Cruise que, geralmente, é dublado pelo carioca Ricardo Schnetzer, porém, na trilogia Missão Impossível, o ator foi dublado por duas vozes diferentes, Marco Antônio Costa nos dois primeiros e Phillipe Maia no terceiro e em vários outros filmes.

 

Alguns casos.


Muitos telespectadores estranharam que o ator mexicano Fernando Colunga, astro de novelas mexicanas como Maria do Bairro, Usurpadora e Amor Real, dublado há mais de dez anos por Ricardo Schnetzer, seja feito agora por Afonso Amajones em Amanhã é Para Sempre no estúdio BKS de São Paulo. Isso ocorreu, porque na época as novelas da Televisa foram exibidas pela Rede CNT, a qual mantinha contrato com a BKS. Quando as novelas voltaram a ser exibidas pelo SBT, elas passaram a ser dubladas pelo estúdio carioca Riosound, assim, houve a mudança de vozes.

Muitos devem pensar que tal situação somente acontece agora, que isso, provavelmente, jamais ocorreu no passado. Mas, por incrível que pareça, este fato já é bem antigo. Para se ter uma ideia, vou citar algumas trocas de vozes bem famosas. A série Jornada nas Estrelas, teve o Capitão Kirk com duas vozes somente na primeira temporada, Emerson Camargo e Dênis Carvalho, na segunda temporada foi dublado por Astrogildo Filho, sendo que o último acompanhou o personagem até o final da série.

Em A Feiticeira o James Stephens, marido de Samantha, a protagonista, teve somente nos dois primeiros anos do seriado, a fase em preto e branco (atualmente sendo exibida colorizada) três vozes: Sergio Galvão, Gervásio Marques e finalmente Olney Cazarré que acompanhou o ator até sua saída da série. A própria Samantha recebeu duas vozes. No primeiro ano Nícia Soares e a partir do segundo ano Rita Cleos. Aliás a mãe da feiticeira, a insuportável Endora, teve três vozes: Márcia Real, no primeiro ano, no segundo Gessy Fonseca e, no terceiro, Helena Samara, que acompanhou a personagem até o final. Larry Tate, chefe de James, ainda em A Feiticeira, teve quatro vozes, nos dois primeiros anos: Carlos Leitão e Raimundo Duprat, a partir da metade do segundo ano Waldir Guedes que acompanhou o personagem até a sexta temporada. Na temporada de número seis do programa, o personagem passou a ser dublado por Xandó Batista.

Recentemente, tivemos outra mudança de voz famosa e polêmica, foi na série 24 Horas, onde o agente Jack Bauer, na quarta temporada teve sua primeira voz, Tatá Guarnieri, substituída por Márcio Simões, por razões judiciais.

Esses são os motivos da mudança de vozes, sendo algo que eu, na condição de fã, não aprecio muito, mas como me foi dito, em alguns casos, já é algo comum na dublagem, por conta da própria longevidade da série. Eu torço para que isso não aconteça e se evitem mudanças de vozes e que sempre se busquem vozes adequadas aos personagens.

Carlos Amorim
Advogado, pesquisador de dublagem e apresentador do programa de rádio CineTvNews na Rádio Sintonia FM.

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