Entrevista realizada por Izaías Correia
Manoel Garcia Júnior é uma das vozes mais conhecidas da nossa dublagem. Quantas vezes não o ouvimos citando fórmulas malucas em seus “macgyverismos” ou ainda gritando “pelos poderes de Greyskull”?
Garcia Júnior nasceu no dia 2 de março de 1967, em São Paulo. Filho dos dubladores Garcia Neto e Dolores Machado, Garcia Júnior começou a carreira muito cedo na dublagem.
Garcia é voz no Brasil de personagens marcantes como He-Man, MacGyver e Capitão Kirk. Marcou uma infinidade de atores dos anos 80 como: Harrison Ford, Patrick Swayze, Kevin Costner, Kurt Russell, Denzel Washington, Robin Williams, Jean-Claude Van Damme e Willem Dafoe.
Como ator, Garcia esteve presente na novela de José Antônio de Souza na Rede Manchete, Tudo ou Nada, de 1996, onde ele interpretava o personagem Rubinho.
Ele ocupou o cargo de diretor de criação da Disney Character Voices International Inc., durante 17 anos, entre 1994 e 2011, quando foi substituído por Marina Appelt e Rául Aldana, respectivamente.
Com vocês a voz de todos os sujeitões truculentos da década de 1980….Garcia Júnior.
“Eu trabalho com atores… Atores que são profissionais…,estejam eles na dublagem, no cinema, na televisão, no teatro ou no rádio.”
Garcia Júnior
Dublagem Brasileira – Garcia, você começou sua carreira muito cedo, né?
Garcia Júnior – É, eu comecei exatamente com dois anos de idade na TV Tupi, em 1969, num programa de televisão chamado É Fácil Ser Feliz.
DB – Como foi esse início?
GJ – Olha nessa fase, na verdade, eu não sabia nem o que estava fazendo. Meu pai era produtor desse programa, do Omar Cardoso, que era um astrólogo que tinha um programa em São Paulo e ele precisava de um cúpido, de uma criança de uma idade bem baixa pra que ficasse ali, basicamente no palco, enquanto os cantores se apresentavam. Fizesse mais ou menos uma figuração ali e falasse umas coisinhas engraçadas. Como eu tinha a idade certa pra isso acabei fazendo o papel. Eu tinha o cabelo encaracoladinho, então cai bem de cúpido naquela época, mas eu não tinha muita noção do que eu tava fazendo.
DB – A Fátima Mourão nos disse numa entrevista que lembra de você, ainda muito menino, indo aos estúdios de dublagem. Como é que você seguiu o caminho dos seus pais?
GJ – Pois é, isso aconteceu na verdade…foi uma contramão. Eu fiz esse programa na Tupi em 1969 e depois ainda fiz mais dois infantis na TV Record, um do Durval de Souza e outro do Palhaço Pimentinha, e durante algum tempo com uns 4 ou 5 anos e tal, fazendo parte do elenco infantil do que era a Xuxa na época, digamos assim. Mas só que meus pais não queriam essa carreira pra mim. Meus pais começaram em rádio, depois foram pra dublagem, meu pai também fez assistência de direção em cinema e televisão, e eles sabiam o quão difícil essa carreira é em vários aspectos.
Então, verdadeiramente, eu fui criado dentro da rádio São Paulo, depois acompanhei meu pai aos estúdios desde sempre, bem como minha mãe, mas eles não queriam essa carreira pra mim. Isso aconteceu meio que por acaso, porque o Olney Cazarré que fazia o Pica-pau, mudou-se pro Rio de Janeiro. Eu, embora more hoje no Rio de Janeiro, more a 28 anos no Rio de Janeiro, sou paulistano com muito orgulho, e estava em São Paulo em 1977, evidentemente, quando o Olney mudou-se pro Rio, pra fazer televisão, pra fazer novela. Consequentemente, abriu-se uma lacuna ali no personagem principal da série o Pica-pau. Eu fiz o teste de brincadeira, e mais porque a minha mãe insistiu, porque eu era muito tímido ainda, e sempre fui! Hoje em dia eu lido melhor com isso, mas quando criança era difícil de lidar. Eu fiz o teste, e na verdade mandaram pro distribuidor e ele acabou me escolhendo.
DB – Grande responsabilidade substituir o Cazarré ainda menino, né?
GJ – Pois é, verdade! E foram duas coisas muito interessantes. Primeiro porque o Ednir que era o responsável pela MCA – Universal, na época, ele falou: “gostei dessa menina”, aí falaram: “mas não é menina, e outra, ele nem é dublador, ele é filho do Garcia Neto“, ele disse: “bom, filho de peixe, peixinho é, vocês mandaram eu escolher é quem eu quero pra fazer”.
Um outro diretor na época, na verdade, era quem iria dirigir a série, uma pessoa muito querida e que teve uma postura de honestidade pra comigo e pra com meu pai muito grande, porque ele quando soube que eu iria fazer o personagem, ele falou: “bom, eu não quero dirigir. Eu não vou pegar uma pessoa que não é profissional pra encabeçar uma série dessa responsabilidade, eu não vou fazer isso”. Meu pai então se apresentou e disse: “olha, eu e a Dolores pedimos pra ele fazer o teste, de brincadeira, ele acabou fazendo e acabou ganhando, eu vou assumir essa responsabilidade, porque eu acho que ele tem capacidade de fazer”. Duas semanas depois que eu tinha iniciado o trabalho, eu nunca tinha dublado até então, esse outro diretor sentou-se conosco, comigo e com meu pai e disse: “olha eu vim aqui pra te pedir desculpas, como homem, porque eu tive essa atitude, assim, assim…e foi uma atitude equivocada de minha parte”. E foi muito bacana ele ter feito isso, ter tomado essa atitude, né? E a partir dali eu comecei a minha carreira na dublagem e segui durante um bom tempo nela.
DB – O trabalho de dublador geralmente é realizado em cima de uma voz original que já existe. Em TV Colosso, foi o inverso, vocês tiveram que ajudar a criar as personagens. Explique um pouco desse processo?
GJ – Ah, foi um trabalho muito legal! Primeiro porque eu trabalhava com amigos queridos. Eu devo muito essa parte da criação também à direção do Mário Jorge que é uma pessoa generosíssima como diretor, então me deu bastante liberdade pra trabalhar, foi uma pessoa que me deu também papéis incríveis, coisas até que não fizeram sucesso, mas foram coisas que ninguém esperava que eu pudesse fazer, de repente um velho palhaço numa novela mexicana, entendeu? E ele me deu essa oportunidade. Na mesma linha, ele me deu o presente de poder criar esses personagens a partir apenas das características físicas e também emocionais, digamos assim, dos personagens.
No caso o JF que era o diretor, o dono da TV Colosso, então uma coisa muito assim (imitando o JF), aquela coisa que manda muito, e o Thunderdog, aquela coisa muito do Thunderbird (imitando o Thunderdog) que fazia a MTV na época, então não era uma coisa muito difícil e tal.
DB – E o Daniel também…
GJ – O Daniel, exatamente! Baseado num colega nosso, um profissional, numa caricatura de um colega nosso, o Ricardo Schnetzer, (imitando o Daniel) uma coisa meio assim e tal, mas de novo uma homenagem que nem tem haver com o tipo físico do Ricardo nem nada, mas uma coisa gostosa porque ele era um cara bonachão, gente boa, bom caráter e bacana como o Ricardo é. Me lembrou ele, eu fiz e o Mário também comprou a ideia e me deixou ir por esse caminho.
DB – Foram horas cansativas de trabalho.
GJ – A gente fazia o que é mais ou menos os Simpsons no original. Éramos 10 atores fazendo todos os personagens da TV Colosso, então fazíamos todos os outros cachorrinhos que pintavam esporadicamente e varávamos a madrugada gravando aquele programa lá.
Rapaz, era muito difícil, principalmente no começo porque a gente teve que…na verdade todos nós estávamos ali fazendo aquele tipo de trabalho pela primeira vez, então no início mesmo, era bastante difícil porque além das vozes dos personagens em si, nós fazíamos o som guia pros atores que ficavam dentro dos bonecos, então se a gente não estava dublando efetivamente nas casas de dublagem, normalmente que a gente frequentava, ou a gente tava fazendo som guia ou a gente tava gravando Tv Colosso de madrugada. Então, nós passamos uns três meses assim, aquela equipe de onze pessoas com o Mário, como verdadeiros zumbis, a gente dormia no chão do estúdio e eu passava em casa só pra tomar banho. Mas é tão saboroso lembrar disso, é legal, os discos que a gente gravou. Eu tenho até hoje os dois LPs todos autografados por todo mundo da TV Colosso, por todos os nossos colegas, enfim, foi uma época muito bacana, recompensadora no sentido profissional mesmo.
DB – He-Man, foi sem dúvida um dos maiores destaques da sua carreira. Como esse personagem entrou em sua vida? Foi teste?
GJ – Não foi teste porque quem distribuía a série na época era o próprio Herbert Richers e ele fez uma escolha de elenco, baseado naquilo que ele acreditava que era o melhor, inclusive em termos de resposta de trabalho, assim como aconteceu com Os Gatões, que eu e o Mário fazíamos os dois principais, o Bo e o Luke.
Na verdade eu não iria fazer o He-Man, eu iria fazer apenas o príncipe Adam, o He-Man era pra ter sido outro dublador. Ele fez o primeiro dia de dublagem, enfim eu não quero citar porque não sei se ele quer ser citado ou não, mas eu sei como ele já tinha feito outro super-herói desse nível, e que tinha um bordão muito forte também, ou talvez ele não quisesse ficar muito marcado por conta disso, eu sei que na metade do dia de gravação, ele virou pra diretora, pra Ângela, e falou assim: “Ângela você me perdoa mas eu não quero mais fazer. Fica tranquila que eu vou resolver isso, eu vou entrar lá e vou conversar com o Herbert, não é nada!” E realmente não tinha havido nenhum tipo de problema, não houve nada, não houve nenhum problema entre equipe ali, foi uma coisa dele mesmo. Ele saiu do estúdio e foi falar com o Herbert e de lá de dentro veio ordem pra que eu fizesse os dois.
DB – A partir dali você teve que compor a dupla personalidade do personagem…
GJ – Exatamente, a partir dali eu passei a fazer o Adam de uma forma um pouco mais leve e engrossar um pouco mais a voz quando fazia o He-Man.
DB – Quantos anos você tinha na época, Garcia?
GJ – 17 anos.
DB – Com 17 anos já estava preparado pra essa tremenda repercussão?
GJ – É, foi engraçado porque a primeira vez que eu me toquei que essa série tinha um impacto tão grande foi quando um amigo meu que estudava economia na PUC, falou assim pra mim: “cara eu vou te levar no bandejão da PUC, porque você não vai acreditar o que é que é essa série, fica todo mundo ali no bandejão de pescoço duro pra cima – porque era uma televisão colocada assim no alto – vendo o He-Man ali na hora do almoço. E eu fui almoçar com ele no bandejão e eu não acreditei, porque era exatamente assim, aquela marmanjada toda almoçando no bandejão e assistindo He-Man.
DB – O filme foi dublado em São Paulo, né? Você e o Isaac foram chamados pra dublar o filme assim mesmo. Isso prova que a voz do He-Man não tem substituto.
GJ – É, foi engraçado porque na época que o filme estava pra ser lançado eu morava em Portugal, então meu pai conversou com a distribuidora e falou: “Olha, ele tá morando lá, ele teria que vir”. Eu morei nove meses lá, ou seja, deu tempo de eu voltar e fazer o filme ainda. Enfim, foi muito gratificante também, foi interessante ter passado por essa experiência.
DB – Agora… Arnold Schwarzenegger! Como foi que ator acabou tendo a voz do Garcia Júnior no Brasil?
GJ – Isso foi outra coisa que eu devo ao diretor Garcia Neto, meu pai, ele me escalou, ele conversou com a pessoa que era administradora na época, na Herbert, a Helena. A gente tinha assistido, na verdade, Conan – O Bárbaro no cinema, eu e ele, a gente tinha ido assistir juntos e gostamos muito. Eu falei: “Pô, o cara é forte, tem uma voz assim e tal”. E aí ele falou: “Bom, eu acho que dá pra você fazer. A partir dali, foi a primeira vez que dublei o Schwarzenegger, e foi mais ou menos na época que o He-Man, na verdade, era um cara forte também, de espada e tal, acho que houve essa associação.
DB – Falando nisso, não é comum as pessoas conhecê-lo pessoalmente, e dizer que achavam que você tinha corpo de halterofilista? (risos)
GJ – (risos) Às vezes acontece! Hoje em dia nem tanto, engraçado isso, mesmo porque as pessoas não reconhecem tão facilmente, elas não associam exatamente. Eu tava com um amigo outro dia no elevador, engraçado isso, a pessoa fica olhando pra trás e vê que não é exatamente quem ele esperava que fosse, mas também não sabe quem é, e aí fica uma coisa meio confusa na cabeça dela.
Com 17 anos aconteceu isso, porque eu era muito magrinho, e houve duas coisas muito engraçadas, primeiro porque eu não gostava de falar que eu fazia o He-Man, eu tinha muita timidez nesse sentido, eu não conseguia, não gostava que a pessoa viesse pra mim e dissesse: “Da pra você fazer a voz”, morria de vergonha disso, então eu evitava. E uma vez eu fui a uma festa com um amigo e ele fez o favor de dizer: “É…ele é quem faz a voz do He-Man”, aí o cara pra quem ele tava falando isso, olhou pra mim e disse: “Sai pra lá! Quem faz o He-Man é um amigo meu”. Aí eu virei assim pro meu amigo e disse: “Tá vendo? Isso é pra você deixar de ser mentiroso na frente dos outros, eu disse que um dia você ia encontrar alguém que conhecesse quem faz o He-Man!”. Aí ele ficou com a cara dura, e pronto, acabou com a brincadeira dele nesse sentido.
DB – Garcia, o Jorgeh Ramos dublou o primeiro Exterminador. Por que que isso aconteceu? Você já tinha dublado o Conan, né?
GJ – É… porque na época esse filme tinha sido dublado na Delart, e você sabe como é que é, dublagem tem uma coisa muito imediata, às vezes você tem que cumprir um prazo de entrega e uma série de coisas que saem muito da mão do cliente e do diretor. Talvez tenha havido ambos os aspectos ali. Primeiro, do cliente não ter nenhuma importância pra ele que se mudasse a voz e que não necessariamente fosse a mesma pessoa que tinha feito o Conan, e segundo porque talvez tivesse uma pressa de prazo que eu não pudesse atendê-los naquele momento, eu não sei muito bem qual teria sido o caso. De qualquer maneira também o Jorgeh foi muitíssimo bem.
DB – Um dos trabalhos mais primorosos de sua carreira é o Roger Rabbit. Ali você mostra o talento necessário de um dublador que é mudar a voz. Comente um pouco sobre isso.
GJ – Olha, como você falou bem no início da nossa conversa, a gente tem como premissa a questão daquilo que o original propõe, porque muitas vezes você recebe um trabalho pra dublar muito em cima da hora e na questão original as pessoas pesquisaram meses uma série de outros aspectos daquelas personagens pra compor um filme animado ou uma série. Então, consequentemente, se você for atrás daquilo que está no original você não vai errar, porque tudo aquilo foi pensado durante mais tempo do que você teve pra pensar durante a dublagem. Então é sempre o que eu procuro analisar, procuro ver o que está sendo feito no original e procuro chegar mais ou menos perto, na medida do possível, da minha dicção vocal.
DB – Aí o talento também conta, né?
GJ – Aí tem uma estradinha. Quando você já tem alguns anos de chão você vai aprendendo a ficar melhor nesse aspecto. Experiência é muito importante, não é tudo evidentemente, começa-se pelo princípio do talento, mas a experiência é fundamental. Eu sempre digo: “Como é que eu dublei sem nunca ter dublado”, eu nunca tinha dublado, mas eu assistia dublagem durante dez anos da minha vida. Então assistir um determinado trabalho e ver como ele funciona é muito importante pra você aprender alguma coisa daquilo, mesmo sem querer. Eu me peguei depois pensando sobre esse processo.
Quando criança, quando eu ia pro estúdio depois da aula encontrar com meu pai e minha mãe, eu sentava lá quietinho e muitas vezes como eu não tinha nada o que fazer, quando o ator tava ali memorizando a fala ou ensaiando, eu decorava junto e dublava mentalmente. Era meio que uma brincadeira de dublar pra passar o tempo. Então quando eu comecei a fazer a coisa já tava meio que orgânica em mim e isso é fundamental, que a gente tenha alguma experiência, que a gente estude aquilo que a gente vai fazer, seja em dublagem, teatro, cinema, televisão e rádio.
DB – Você dublou em São Paulo e no Rio. Qual a grande diferença entre as duas dublagens?
GJ – As pessoas falam muito de regionalismo, o que eu acho que não pesa tanto. Eu acho que a boa dublagem é aquela que consegue impersoalisar isso, ou seja, você nem ficar dublando carioquês nem paulistês nem nada que seja muito calcado em sotaques regionais. Eu acho que antigamente, a questão de uns 20 ou 30 anos essa preocupação era um pouco maior, hoje em dia, claro, como você tem muitas coisas, séries aproximadas do cotidiano, essas séries fantásticas que a gente tinha como Túnel do Tempo, Terra de Gigantes, Perdidos no Espaço, não é mais uma tônica das series televisivas, elas estão mais se aproximando a um Seinfield, Friends, às coisas que vêm mais próximas da nossa realidade ou da realidade cotidiana americana. Há uma maior necessidade de se traduzir isso para uma realidade local e evidentemente se você está em São Paulo você vai traduzir para sua realidade local em São Paulo se você está no Rio vai traduzir essa realidade local para o Rio de Janeiro. Fundamentalmente é isso.
Eu conheço os profissionais dos dois mercados e tenho um profundo respeito pelos bons profissionais dos dois mercados.
DB – No que a experiência trabalhando em frente às câmeras, como na novela Tudo ou Nada ou em episódios do Você Decide, contribuiu para sua formação como ator?
GJ – Eu fiz muito teatro também aqui no Rio de Janeiro. Durante cinco anos eu trabalhei com grandes diretores, com uma grande diretora excelente de musical e de um feeling maravilhoso que é a Cininha de Paula; eu trabalhei com Sergio Tierre que além de ser um grande diretor é um tremendo de um mestre, uma pessoa generosíssima no seu processo de trabalho, no sentido de ensinar mesmo, de trocar com os atores com quem ele trabalha, então eu fui muito feliz de trabalhar com duas pessoas assim de um calibre enorme, de uma experiência e de uma generosidade muito grande em teatro.
Eu acho que é fundamental pro ator, mesmo que ele se fundamente na dublagem ou qualquer outro seguimento da carreira, que ele diversifique, porque primeiro ele vai ver as diferentes dificuldades que cada veículo coloca pra ele e ele vai ter que passar essas barreiras, passar essas dificuldades, aprender a lidar com elas e aprender a lidar com outras tecnalidades de diferentes vertentes da profissão do ator. E acho que isso só vem a enriquecer o seu trabalho. E na verdade também a dublagem foi muito importante quando eu cheguei nessas outras vertentes porque você tem um poder de compreensão de texto e de síntese desse texto através do fato de você ter visto e lido muita coisa de forma muito rápida e muito imediata. Então eu acho que a dublagem ajuda muito o ator nessas outras áreas e essas outras áreas ajudam muito o ator dentro da dublagem.
DB – Dentro da imensa filmografia que você tem, algum personagem te marcou e pouca gente o menciona?
GJ – Eu gosto muito de um trabalho. Engraçado que houve uma crítica antes dele estrear. Eu fiz rádio também, eu fui locutor de rádio em Portugal, comecei minha carreira como locutor lá em Portugal e depois trabalhei aqui no Rio de Janeiro em algumas rádios. E quando eu voltei de Portugal, eu tinha assistido lá um filme com Robin Williams chamado “Bom Dia Vietnã”, que ele fazia um locutor em Saigon. Eu achei o filme fantástico e como eu tinha ambas experiências, esse filme eu pedi muito pra fazer. Pedi o texto antes, o script, levei as coisas pra casa e estudei aquilo, coisa que hoje em dia eu fico muito feliz que muita gente faz, mas não era uma coisa muito habitual na época em que aconteceu, 1989 mais ou menos. E eu procurei fazer realmente o melhor deste trabalho, acredito que tenha conseguido fazer um trabalho satisfatório com a direção maravilhosa do José Santanna que foi primordial também e generosíssimo pra que eu pudesse alcançar um trabalho satisfatório.
Mas o engraçado é que um jornal do Rio de Janeiro antes do filme ser exibido na Rede Globo, e como era um filme realmente muito difícil que ele falava muito rápido, o jornal colocou assim: “E a dublagem deve estar estragando….deve…. estar estragando o filme.”
DB – (risos) O eterno preconceito com a dublagem, né?
GJ – (risos) Exatamente! Isso sempre me marcou. Essa história! Esse filme ficou com essa colocação, antes de ele ser exibido na televisão tinha uma crítica negativa à dublagem. Mas a maior crítica positiva veio de um grande colega, um grande profissional que foi o Newton da Matta, que após a exibição do filme, no dia seguinte ele escreveu uma resenha e colocou lá no quadro da Herbert Richers elogiando o trabalho e tal, de forma muito generosa. Newton falecido e que fazia brilhantemente o Bruce Willis.
DB – Que companheiro de dublagem te deu mais prazer em trabalhar? Com qual aprendeu mais?
GJ – Ah, Izaías essa pergunta é impossível de ser respondida, porque a lista não iria acabar hoje! Eu digo a você o seguinte: eu aprendi com todas as pessoas com quem eu trabalhei na minha vida em dublagem. Verdadeiramente, pode parecer clichê e confete, mas não é não! Mesmo com as pessoas com quem eu não me identifiquei, tive dificuldades, essas me ensinaram outras coisas muito importantes como quando você aprende com grandes profissionais. Agora o fato de eu ter assistido, por exemplo em São Paulo, na minha época de criança, profissionais da maior grandeza trabalharem durante tantos anos, eu não quero dizer nomes aqui porque eu vou esquecer tanta gente boa, mas, Nelson Batista, Marcos Miranda, José Soares, meu Deus do céu! É uma infinidade de nomes que não vai caber nessa lista, mas aprendi com cada e todos eles.
DB – Você foi diretor de criação da Disney Character Voices International, fale um pouquinho pra gente dessa atividade.
GJ – Eu era responsável por todos os trabalhos em português da Disney uma coisa abrangente e delicada, evidentemente. Me deu muito prazer de poder trabalhar com gente tão talentosa e descobrir gente nova.
Trabalhar com gente que está em outras vertentes, em outros mercados, eu trouxe muita gente do teatro pra fazer os nossos musicais principalmente, gente de qualidade vocal e técnica como cantores estupendos e atores maravilhosos, enfim é um trabalho difícil porque lida com uma série de produtos e títulos muito grande, mas é um trabalho que me deu muito prazer.
DB – Então Garcia, escalar atores da TV para animações da Disney, é uma prática que vem levantando críticas de fãs da dublagem e até de alguns profissionais da área. Como você vê essas críticas?
GJ – Primeiro que eu não vejo isso como crítica, eu acho que cada um diz o quer, porque é direito de cada um manifestar o seu pensamento de forma livre e completa.
O que eu tenho a dizer é o seguinte: eu trabalho com atores…ponto. Atores que são profissionais…ponto de novo, estejam eles na dublagem, no cinema, na televisão, no teatro ou no rádio. Eu conheço muita gente de tantas outras áreas que são bons atores e não são bons profissionais e vice e versa. Eu trabalho com atores e bons profissionais.
DB – Seria a mesma coisa de vetar um dublador na televisão.
GJ – É…Aliás, um dia, a Marieta Severo disse isso muito bem, Marieta falou: “Engraçado, eu não pergunto o que o cara faz todo dia quando ele vai fazer uma peça de teatro, o que me interessa é saber se ele é bom e se ele é profissional”.
DB – Garcia, muito obrigado pelo papo, sucesso! Eu queria que você deixasse uma mensagem para os Infanautas.
GJ – A única mensagem que eu queria deixar é a de carinho e de agradecimento por todas as mensagens que eu tenho lido e de parabéns também ao site que eu tenho lido as entrevistas de outros colegas e tenho visto a seriedade e o carinho que vocês têm tido com a profissão da dublagem especificamente, que é uma coisa tão difícil e muitas vezes não reconhecida da maneira como ela deveria ser.
Entrevista originalmente publicada no site InfanTV.
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