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Relembre os LPs com historinhas lançados pela Disney no Brasil.

Adaptação de histórias infantis com vozes da AIC – São Paulo.


No final da década de 1960, a Abril Cultural possuía os direitos exclusivos das publicações Disney no Brasil. Havia uma série de gibis em nossas bancas de jornais: “O Pato Donald”, “Mickey”, “Tio Patinhas”, “Zé Carioca”, “Almanaque Disney” e edições especiais reeditando as melhores histórias.

Nesse período, a empresa lançou nos Estados Unidos algo que fez um enorme sucesso, onde se publicava uma história assinada por Walt Disney e as crianças poderiam acompanhá-la através de um disco, no qual era feita toda a dramatização da historinha.

A ideia chegou ao Brasil, mas a Abril Cultural, ciente do controle de qualidade da Disney, necessitou fazer um planejamento rigoroso de como seria a versão brasileira.


Foi escolhida a gaúcha Edy Lima, escritora já de renome de Literatura Infantil, ganhadora de diversos prêmios, como o “Jabuti”, a fim de que coordenasse todo esse trabalho.

Edy Lima, experiência com adaptações de histórias

Primeiramente, Edy Lima fez pequenas adaptações nas histórias. Muitas eram conhecidas do público infantil como: Pinóquio, Bambi, Branca de Neve, A Bela Adormecida, mas havia várias ainda inéditas no Brasil.

Dando o título de “Historinhas Disney”, Edy Lima observou que havia sempre um narrador de cada história, mas era sempre a mesma voz. Segundo ela, não deveria ser caricata, pois parecia a voz tranquila de um pai que narrava o enredo, que era intercalado pela dramatização dos personagens. Assim, as crianças poderiam acompanhar os livrinhos, sincronizando com o que estavam ouvindo com o disco.

Edy Lima selecionou alguns profissionais, mas foi a voz marcante do radialista e dublador Ronaldo Baptista que ganhou essa missão maravilhosa de encantar as crianças.

É bom lembrar que, naquela época, os discos eram de vinil, assim a edição vinha com um livrinho e um LP pequeno, chamado na época de “compacto simples”, dessa forma, era necessário que o disco fosse mudado de lado a fim de que a história continuasse.

Ronaldo Baptista, uma locução apropriada para a criançada.

A gravadora que ganhou a produção dos discos foi a RGE. As canções eram adaptadas e alguns cantores ou grupos musicais as executavam, como o extinto conjunto musical “Os Titulares do Rítmo”.

Mas, havia ainda o aspecto mais complicado de toda a produção: escolher um excelente Diretor Artístico que soubesse escalar e dirigir o elenco de vozes para a interpretação perfeita. Evidentemente, logo se chegou a Older Cazarré, com a sua larga experiência emprestando sua voz a personagens e na direção de dublagem para desenhos. Cazarré foi sem dúvida a escolha mais acertada.

Older Cazarré, uma excelente direção.

Edy Lima, Ronaldo Baptista e Older Cazarré formaram o tripé das Historinhas Disney. As gravações eram efetuadas nos estúdios da RGE, em São Paulo, e para cada historinha Older Cazarré escalava dubladores da AIC.

Segundo informações de fontes históricas da Abril Cultural, as Historinhas Disney estrearam no Brasil em 1968, sendo vendida uma vez por semana nas bancas de jornais. Foram 68 historinhas, terminando em 1969.

O sucesso dessa publicação foi extraordinário, a Abril Cultural teve que aumentar o número de exemplares, assim como a RGE os discos que acompanhavam.

A repercussão desse produto agradava não só as crianças, mas também aos adultos. A “Abril Cultural” viu a necessidade de reeditá-las várias vezes no decorrer dos anos, sempre com sucesso, pois havia novas crianças que se interessavam em obtê-las.

Os Discos:


1968/69 – Primeira edição das Historinhas Disney, 68 livretos acompanhados de um disco de vinil “compacto simples”.

1970/71 – Segunda edição das Historinhas Disney. Nesta, não houve nenhuma alteração.

1978/79 – Terceira edição das Historinhas Disney, que também não sofreu alterações.

1986/1987 – Quarta edição das Historinhas Disney. Aqui, houve uma grande alteração. Os discos de vinil já não eram mais utilizados, assim as historinhas foram publicadas em fitas K-7, magnéticas. Este fato gerou algumas alterações:

1 – A fita K-7 permitia uma historinha completa em cada lado, portanto os livretos traziam duas historinhas, ao invés de uma, como fora anteriormente. A primeira história sempre era a mais famosa.

2 – Houve uma redução de 68 publicações para 30, porém apenas 8 historinhas foram suprimidas, uma vez que vinham duas histórias em cada livreto.

3 – Em 1986, houve a necessidade de se atualizar algumas histórias, pois muitas haviam sido exibidas no Cinema, nas décadas de 1970 e início da de 80, tais como: “Aristogatas” e “Bernardo e Bianca”.

Foi outro estrondoso sucesso! As novas historinhas foram também adptadas por Edy Lima e contou com a narração de Ronaldo Baptista e a Direção Artística de Older Cazarré, que mais uma vez escalou as vozes mais adequadas aos personagens, com os talentos de vozes de que dispunha, a maioria oriunda também da AIC.

1988/89 – A Abril Cultural reeditou novamente os 30 livretos das Historinhas Disney, totalizando 60 histórias. Esta foi a última edição das Historinhas Disney.

As Historinhas Disney, mais do que um marco na publicação infantil, é sem dúvida, um dos melhores trabalhos artísticos em todos os sentidos. As narrações de Ronaldo Baptista sempre davam um sabor de um alegre “contador de histórias para crianças”. Older Cazarré foi também o “maestro” de todo esse sucesso por sua competência inigualável na condução das dramatizações, das interpretações.

Alguns Dubladores:


ALADIM

Narração: Ronaldo Baptista.
Aladim: Marcelo Gastaldi.
Mãe de Aladim: Yolanda Cavalcanti.
Gênio do Anel: Borges de Barros.
Gênio da Lâmpada: Antônio Cardoso.
Sultão: Eleu Salvador.
Mágico (que se faz passar por tio de Aladim): Renato Restier.
Princesa: Lucy Guimarães.

Direção Artística: Older Cazarré.

 

A ILHA DO TESOURO

Narrador: Ronaldo Baptista.
Jim (menino): Zezinho Cútolo.
Juiz: Sílvio Navas.
Doutor: Dráusio de Oliveira.
Capitão: Mario Jorge Montini.
Silver (Pirata): José Soares.
Ben Gunn: Jorge Pires (falsete).
Direção Artística: Older Cazarré.

Marco Antônio dos Santos
Marco Antônio dos Santos
Professor, pesquisador de dublagem e responsável pelo blog Universo AIC.

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