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Baú da Dublagem: Jim das Selvas, Dos Seriados ao Legado na TV Brasileira

Ícone da selva nos cinemas e na TV, o personagem eternizado por Johnny Weissmuller conquistou gerações no Brasil e deixou um legado que resiste na memória, apesar do esquecimento nas telinhas.


A Origem Cinematográfica 

Em 1937, surgiu o primeiro filme do personagem Jim das Selvas, com o ator Grant Withers no papel principal. Composto por 12 capítulos consecutivos, esse seriado marcou a estreia do herói nas telonas. No entanto, apesar de ser o pioneiro, Grant Withers acabou sendo ofuscado por seu sucessor: Johnny Weissmuller, que viria a se tornar a representação definitiva de Jim das Selvas para toda uma geração.

Johnny Weissmuller, já consagrado como Tarzan, encaixou-se perfeitamente no novo papel. Com sua imagem associada à selva e ao heroísmo físico, ele protagonizou 16 filmes entre 1938 e 1954, consolidando-se como o rosto mais lembrado de Jim das Selvas.

A Transição para a Televisão 

Com o fim da produção cinematográfica, a figura de Jim das Selvas migrou para a televisão. Entre 26 de setembro de 1955 e 19 de março de 1956, a produtora Screen Gems lançou uma série de TV com 26 episódios, mantendo Johnny Weissmuller no papel principal. Apesar da familiaridade do ator com o personagem, a série televisiva tinha uma produção visivelmente mais modesta, o que refletia em roteiros menos fantasiosos e uma estética simplificada.

A mudança de mídia também trouxe novos rostos: Norman Fredric, que interpretava Kasseem, amigo e confidente hindu de Jim. Mais tarde, o ator mudaria seu nome para Dean Frederic, participando de outras produções como Steve Canyon.

Martin Huston assumiu o papel do filho de Jim; O retorno de Tamba, o chipanzé, interpretado por diversos animais treinados do World Jungle Compound, garantia o alívio cômico; Paul Cavanagh também fez participações especiais como o Comissário Morrison.

Ao contrário dos filmes anteriores, a série procurava retratar os africanos com maior autenticidade, escalando atores negros para representar os nativos. Ainda assim, os enredos também levavam Jim a explorar selvas asiáticas. Os episódios, com aproximadamente 25 minutos de duração, frequentemente envolviam mistérios, conflitos morais, ensinamentos ao filho e embates com aventureiros europeus.

Como curiosidade, parte das cenas foi filmada nos estúdios da MGM, que possuíam uma selva artificial e um rio cenográfico. Eventualmente, trechos dos filmes antigos também foram reutilizados para complementar a narrativa.


Jim das Selvas no Brasil

No Brasil, a popularidade de Jim das Selvas começou com a exibição de alguns filmes pela TV Tupi, a partir do final de 1966, aos sábados no final da tarde. A emissora, porém, ignorou completamente o filme original de 1937, por não ser estrelado por Johnny Weissmuller. A exibição não seguiu uma ordem cronológica e não contemplou os 16 filmes produzidos.

No ano seguinte, 1967, a TV Record reapresentou alguns dos mesmos filmes que já haviam sido exibidos pela Tupi. Ainda que tenha mantido o interesse do público, não houve novidades no conteúdo.

A redescoberta de Jim das Selvas aconteceu com a TV Excelsior, que em 1968 exibiu todos os filmes e episódios da série de TV, de segunda à sexta-feira, às 16h. Como os filmes variavam entre 70 e 90 minutos, a emissora os dividiu em três partes, adaptando-os ao formato televisivo diário de aproximadamente 30 minutos.


José Parisi, a primeira voz do Jim das Selvas no Brasil

A Dublagem Brasileira

Todos os filmes e episódios da série foram dublados pela AIC (Arte Industrial Cinematográfica), um dos mais respeitados estúdios de dublagem da época. No entanto, essa dublagem praticamente desapareceu, restando pouquíssimos registros com áudio original. Curiosamente, enquanto outras produções da Columbia Pictures e Screen Gems preservaram seus arquivos sonoros — como Os Três Patetas —, o material de Jim das Selvas teve destino desconhecido.

Durante as primeiras exibições na TV Tupi, por volta de 1966 e 1967, o ator e dublador José Parisi emprestou sua voz ao personagem. Seu timbre firme e carismático foi marcante para os primeiros fãs brasileiros da franquia. A segundo leva de filmes foi dublada por Arakén Saldanha que também fez alguns episódios em Syndication, a partir da estreia da série e dos filmes inéditos na TV Excelsior, em 1968. A mudança se deve, provavelmente, ao fato de que Parisi se dedicava mais intensamente às novelas da TV Tupi naquele período.

Na última leva de episódios, quando a série passou a chamar Jungle Johnny, a voz de Jim das Selvas passou a ser interpretada por Carlos Alberto Vaccari. 

Por essa razão, muitos fãs se lembram de três vozes distintas associadas a Jim das Selvas, dependendo da época e do canal em que assistiram.


A Raridade Atual

Hoje em dia, poucos registros da série e dos filmes dublados sobrevivem. Algumas cópias em DVD podem ser encontradas, mas apenas com legendas. A dublagem da AIC tornou-se peça de colecionador, sendo raramente encontrada, e apenas em alguns filmes isolados. Não há registro conhecido da série de TV com a dublagem original preservada.

Apesar de seu desaparecimento gradual das telas brasileiras, Jim das Selvas marcou época tanto no cinema quanto na televisão. Para o público brasileiro, especialmente, sua exibição nos anos 1960 deixou uma forte impressão, ainda que, desde então, nunca mais tenha retornado à TV aberta. Apenas uma breve retomada foi feita em 1996, quando o canal a cabo Warner exibiu alguns poucos filmes.

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Marco Antônio dos Santos
Professor, pesquisador de dublagem e responsável pelo blog Universo AIC.

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