Um trabalho de dublagem primoroso da AIC que incluiu até o ator Tony Ramos.
A Escuna do Diabo foi uma série de TV que pretendia unir comédia e aventura em episódios com uma hora de duração. Foi exibida nos Estados Unidos entre 19 de Setembro de 1965 e 17 de Abril de 1966, tendo como produtores Harry Ackerman e Herbert Hirschman.
Levemente baseada em filme do mesmo nome e produzido em 1960, a série foi estrelada por Jack Lemmon e Ricky Nelson.
A Escuna do Diabo violou pelo menos três regras básicas dentro do gênero cômico da época: a duração de cada episódio (a maioria das comédias então produzidas apresentavam episódios com meia hora de duração), não havia o fundo de risadas (comum em séries como Agente 86) e a presença de personagens mortos.
O programa é ambientado durante a Segunda Guerra Mundial, focalizando a tripulação do USS Kiwi, uma escuna de madeira. O Kiwi era comandado pelo Major do Exército Simon Butcher (Jack Warden) – encarregado das operações em terra – e pelo Tenente da Marinha Richard Rip Riddle (Gary Collins) – no comando da escuna.
A embarcação tem por missão se infiltrar nas linhas japonesas. Para tanto, carregava uma bandeira suíça, apresentando-se como sendo de um País neutro.
Foi a primeira de quatro séries estreladas pelo ator Gary Collins – as seguintes foram Cavalo de Ferro (1966/68), O Sexto Sentido (1972) e Born Free (1974).
A Série no Brasil.
No Brasil, A Escuna do Diabo estreou pela TV Excelsior São Paulo no dia 10 de Fevereiro de 1969, às 23h (logo depois de Missão Impossível).
A intenção da TV Excelsior era exibir a série antes da sua novela das 18h, uma vez que a produção apresentava certas situações de aventura e comédia de marinheiros. Entretanto, a forte Censura Federal do governo militar vetou a sua exibição na íntegra, não só pelo horário, mas também porque apresentava a Marinha em situações consideradas hilárias.
Assim, a TV Excelsior tinha os direitos de exibição e a dublagem totalmente realizada da única temporada produzida, em seu acervo, mas iniciou uma enorme tentativa de exibir a série. Somente em 1969, após o AI-5, houve a liberação com as seguintes restrições: não poderia ser exibida antes das 23h, muitos episódios sofreram cortes de diversas cenas e cerca deles foram totalmente proibidos de serem apresentados.
Em 1972 foi relançada pela TV Record, ainda com as mesmas películas em preto e branco exibidas pela Excelsior. Na épóca, as condições da Censura Federal se mantiveram as mesmas. Somente em 1979, já com o início de uma abertura política branda, a série foi reclassificada e a TV Record pôde exibi-la na íntegra.
A TV Record retornou com a série entre os anos de 1975 e 1976, “pela primeira vez a cores”. O programa foi ainda exibido mais duas vezes, pela mesma emissora, entre os anos de 1979 e 1980 e de 1988 a 1989.
Estas informações foram obtidas através do diretor de programação de séries e filmes da TV Record, Roberto Rios, que exercia a função em 1989, quando a série A Escuna do Diabo foi exibida pela última vez na TV brasileira, mais uma vez pela TV Record.
Esta sitcom americana, que não alcançou sucesso nos Estados Unidos, talvez tenha sido a série que sofreu mais restrições da Censura Federal durante o Regime Militar, por mais bizarro que possa ser o fato.
A Dublagem da AIC.
Há algumas curiosidades nesta dublagem realizada pela AIC. Apesar de A Escuna do Diabo ter estreado somente em fevereiro de 1969, pela extinta TV Excelsior, a produção foi totalmente dublada ainda em meados de 1967.
A dublagem contou com dubladores experientes como Arakén Saldanha, Ary de Toledo, Carlos Alberto Vaccari e Emerson Camargo, entre outros, o que trouxe uma valiosa contribuição aos roteiros dos episódios, na sua maioria lentos para serem uma comédia e fracos em aventura.
Também os dubladores para os atores convidados eram brilhantes como: Líria Marçal, Gessy Fonseca, Bruno Netto, Amaury Costa, etc, o que valorizou muito a atuação dos atores e da própria série.
Esta série contou com a dublagem de Tony Ramos para o personagem do ator Mark Slade. Entretanto, o personagem possui uma atuação mínima na série em cenas muito curtas. Durante a dublagem, Tony Ramos a abandonou, devido a um convite de estrelar a novela Os Rebeldes, em 1967,na TV Tupi, tendo o seu primeiro contrato definido com a emissora. Sendo assim ele participou de cerca de 22 de uma produção de 29 episódios. Foi substituído por um jovem que teria, futuramente, uma carreira também só como ator: Osmar Prado.
A produção vale muito pela dublagem efetuada pela AIC, no período áureo do estúdio.
Confira o elenco de dublagem da série:
Arakén Saldanha: Jack Warden (Major Simon Butcher)
Ary de Toledo: Gary Collins (Tenente “Rip” Riddle).
Carlos Alberto Vaccari: Mike Kellin (William “Willie” Miller).
Emerson Camargo: Rudy Solari (Sherman Nagurski).
Flávio Galvão: Don Penny (Charles Tyler).
Tony Ramos (1ª voz) e Osmar Prado (2ª voz): Mark Slade (Patrick Hollis, radioman):
Olney Cazarré: Fred Smoot (Seymour Trivers).
Batista Linardi: Bill Zuckert (General Cross).