Na Semana Santa tornou-se tradicional ouvir a Paixão de Cristo com grandes vozes da dublagem brasileira.
A Paixão de Cristo no Rádio
A Semana Santa sempre foi uma ocasião ideal para que os cristãos voltassem suas atenções para rememorar a vida de Jesus de Cristo. Nesse clima, é bastante comum que as emissoras de TV desengavetem clássicos que representem a trajetória da figura maior do cristianismo.
Mas foi a partir de 1958 que a Paixão de Cristo começou a se tornar tradicional também em áudio, quando o titular do Departamento de Rádio dos Fabricantes de Melhoral, Ives Alves, teve a ideia da realização de um programa religioso e levou a sugestão para a Rádio Nacional. Na emissora o projeto foi acolhido pelos dirigentes da E-8, tendo em seguida forte apoio de D. Helder Câmara, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro.
O roteiro ficou a cargo de Giusepe Ghiaroni, conhecido poeta da época por textos como “Mãe”, “Máquina de Escrever” e programas para o rádio. A direção foi de Floriano Faissal que escalou um elenco de rádio atores da mais alta qualidade, como: Hemilcio Froes, Luiz Manoel, Roberto Faissal, Mario Lago, Celso Guimarães, Darcy Pedrosa, Castro Gonzaga, Domício Costa e Milton Rangel.
No dia 27 de março, com o título de “Vida de Nosso Senhor Jesus Cristo”, foi ao ar o produto final do projeto, sendo dividido em quatro sequências: a primeira a partir das 11h15, a segunda às 12h30, a terceira às 14h30 e a última às 18h. Antes das gravações D. Hélder Câmara abençoou todo o elenco e dirigiu uma saudação aos ouvintes. Na ocasião, cerca de 400 emissoras brasileiras retransmitiram o programa.
A produção, muito bem realizada, contou com exatas duas horas e 51 minutos que pela complexidade do trabalho precisaram ser previamente gravadas, usando uma nova tecnologia que estava chegando ao Brasil na época, os gravadores de fita Ampex, com excelente qualidade de gravação.
Apesar da possibilidade de refazer algum trecho, o programa foi gravado como se fosse ao vivo, graças ao profissionalismo do elenco de vozes, muito bem ensaiado, incluindo no final um terço com vozes femininas, sob a supervisão da Arquidiocese do Rio de Janeiro.
Uma nova versão para CD.
Ao longo dos anos, a produção radiofônica foi reprisada sempre na Semana Santa nas emissoras de rádio pelo Brasil, até que em 1993, impulsionada por essa atmosfera sagrada, Mariana Ghiaroni, filha de Giusepe, resolveu resgatar o texto original e adaptá-lo para uma versão em LP.
Gravado pela EMI, o projeto contou com a direção artística de João Augusto, além da direção geral de Chico Anysio e Eduardo Sidney. Logo eles buscaram nomes que pudessem trazer nas vozes toda a emoção contida no trabalho original, e escalaram dubladores e rádio atores, alguns que participaram inclusive da produção dos anos 50, como Darcy Pedrosa e Castro Gonzaga. “Esse projeto pra mim foi uma espécie de volta ao passado”, disse o Gonzaga ao programa Vídeo Show na época da gravação.
Chico Anysio, que iniciou a carreira no rádio compondo muitos dos personagens que levou para a televisão, também ficou encarregado da narração. Em entrevista concedida na época chegou a afirmar que o projeto tem um toque ecumênico e “resultou num trabalho de mais alta categoria e de alto nível”.
Lançado em fevereiro de 1994, o CD que foi gravado no estúdio DC Vox no Rio de Janeiro, saiu com o título de “Vida De Cristo De Ghiaroni”, e teve uma boa aceitação no mercado fonográfico na época.
Para interpretar Jesus Cristo foi escalada uma das vozes mais conceituadas da dublagem brasileira na época, André Filho, responsável por personagens como Jonathan Hart (Casal 20) e Rambo; Maria foi interpretada por Juraciara Diácovo, dubladora da Katy Mahoney em Dama de Ouro, que também se encarregou da direção de elenco do projeto.
A qualidade do trabalho pode ser notada nas performances de conceituadas vozes da dublagem da época, como Nilton Valério, Júlio César, Domício Costa, Nizo Neto, Isaac Bardavid, Rodney Gomes, Francisco Milano e Pádua Moreira.