Entrevista realizada por Izaías Correia
No último dia 31 de dezembro estreou na Netflix a tão aguardada quarta temporada de Cobra Kai, série americana baseada nos longas-metragens da franquia Karatê Kid.
O programa que já tinha feito sucesso no Youtube, foi adquirido pelo serviço de streaming e trouxe uma novidade: a dublagem em português.
Para compor o elenco de vozes brasileiras o estúdio Som de Vera Cruz reuniu dubladores que remetem a nostalgia dos anos 80, época em que a franquia Karatê Kid atingiu seu ápice.
Além de Mário Jorge voltar ao papel do vilão Johnny Lawrence (William Zabka), Nizo Neto (voz constante em protagonistas oitentistas) foi o escalado para fazer o Daniel LaRusso (Ralph Macchio) já que Cleonir dos Santos, dublador original do personagem, é falecido. Ainda no elenco Sumára Louise, outra voz conhecida da década de 80, está de volta como a mãe de Daniel.
Nizo, a nova voz brasileira de Larusso, combinou perfeitamente com o tipo apresentado por Ralph Macchio, isso porque o ator tem uma imagem de eterno garotão, enquanto o dublador tem uma voz que dá muito certo com esse tipo de personagem.
O DB conversou com Nizo Neto, pra falar um pouco sobre a dublagem de Cobra Kai, que teve toda sua gravação feita remotamente.
dá muito certo
Mensagem de Daniel Larusso.
Nizo Neto
“Acho que minha voz caiu muito bem no Ralph Macchio, como ele está hoje. Eu poderia ter feito também naquela época, mas não se fazia teste para longa. Mas ninguém ficou melhor do que o Cleonir.”
Nizo Neto
Dublagem Brasileira – Karate Kid foi um gigantesco sucesso no Brasil, principalmente nas suas exibições na televisão, então a dublagem com Cleonir dos Santos e Magalhães Graça ficou imortalizada na lembrança de muitos. O que representou para você continuar a saga de Daniel dando voz ao protagonista?
Nizo Neto – Olha, embora eu não seja um grande fã de Karate Kid, eu assisti o primeiro, lembro muito do primeiro. Com certeza um filmaço! Mas não sou fanático pela saga. Mas é uma obra importante.
Poder dar continuidade, principalmente ao trabalho do Cleonir, que na minha opinião é um dos maiores atores de voz do nosso país, foi assim uma coisa muito legal, fiquei muito feliz.
Acho que minha voz caiu muito bem no Ralph Macchio, como ele está hoje. Eu poderia ter feito também naquela época, mas não se fazia teste para longa. Mas ninguém ficou melhor do que o Cleonir. O próprio Selton vestiu muito bem depois né? Mas o Cleonir é uma figura muito icônica.
Sobre a dublagem.
“Poder dar continuidade, principalmente ao trabalho do Cleonir, que na minha opinião é um dos maiores atores de voz do nosso país, foi assim uma coisa muito legal, fiquei muito feliz.“
Nizo Neto
DB – O Cleonir realmente era fabuloso!
NN – Sim, eu o conheci muito no iniciozinho da minha entrada na dublagem e que pessoa especial Ele era assim um cara fora do comum!
DB – Infelizmente o mundo dublagem perdeu o Cleonir em 2000, mas como você mesmo falou o terceiro filme teve a voz do Selton Mello. O que você acha que pesou na escolha pela sua voz para o Daniel?
NN – Olha, eu fiz teste pra dublar o Ralph Macchio. Realmente não sei quem mais fez, fico até curioso pra saber quem fez. O Selton não fez e eu acho que duas questões pesaram: primeiro que ele tá contratado da Globo e essa série é da Netflix e acho que não foi muito confortável, acho que a Globo não liberaria e segundo que o Selton se fizesse, seria pelo preço de star talent e eu ganho pela tabela de hora normal que qualquer dublador ganharia. Então com certeza isso aí pro orçamento iria pesar um pouco.
Sobre a escalação.
“O Selton não fez e eu acho que duas questões pesaram: primeiro que ele tá contratado da Globo e essa série é da Netflix e acho que não foi muito confortável, acho que a Globo não liberaria e segundo que o Selton se fizesse, seria pelo preço de star talent.”
Nizo Neto
DB – Ainda bem que foi você, porque o resultado ficou perfeito! Algumas vozes não envelhecem, Cleonir, Rodney Gomes, Mário Jorge, Luiz Manoel e você são exemplos disso. Será que a voz casou tão bem porque o Ralph Macchio também tem uma imagem ainda muito ligada ao garotão dos filmes?
NN – É realmente, a voz não envelhece. Você vê o próprio Da Matta, Nilton Valério, Dário de Castro, o próprio Júlio Chaves que só escalaram pra fazer velho por causa da idade porque ele continuava com a voz do Mel Gibson de 30 anos atrás.
Sim, o Ralph envelheceu muito bem, né? Ele aparenta ser muito mais jovem do que é, então eu acho que minha voz caiu muito bem nele, assim, do jeito que ele tá agora.
E…pode ser! Eu acho que deu muito certo talvez por isso, por eu ter ainda uma voz muito jovem e ele é um cara que ainda aparenta ser muito jovem, ele tem um pouco desse clima que ele tinha nos filmes de quando ele era adolescente, e eu acho que está aí o motivo da voz ter vestido tão bem.
DB – Outra coisa que contribuiu foi essa coisa que você tem de ser uma voz marcante dos garotos dos anos 80. Esse clima repleto de easter eggs da série, acabou indo pra dublagem com algumas vozes conhecidas dos anos 80, como no caso da Sumára fazendo a mãe do Daniel. Dentro desse clima, quem você traria que está em condições de dublar para essa quinta temporada?
NN – Bom não sei quem entra nessa quinta temporada que era dos filmes antigos. Atenção gente um spolerzinho aqui se você ainda não terminou a quarta temporada: o personagem Chozen Toguchi que Dário de Castro dublava, que infelizmente não vai poder continuar dublando… eu botaria ali o Philippe Maia, acho que ele iria vestir bem, agora botando alguém daquela época, se quisesse manter o clima de nostalgia, eu acho que Ricardo Schnetzer, poderia vestir bem também.
DB – Cobra Kai começou a ser dublado ainda de forma remota. Como é que foi esse processo de adaptação?
NN – Olha, Cobra Kai ainda continua sendo dublado remoto, inclusive foi o primeiro trabalho que eu posso dizer, significativo, que eu fiz remotamente. Antes do Cobra Kai eu fiz duas ou três escalas, assim bem pequenas, foi até que meio pra teste.
Realmente é um desafio muito grande! O remoto tem sido bem complicado porque não só você recebe áudios gravados em estúdios diferentes, com microfones diferentes. Outro problema sério é o software que se usa para o remoto, uma coisa que ainda não foi aperfeiçoada. É bem complicado, assim, a pós-produção, para o pessoal que mixa.
DB – E a qualidade final desse trabalho remoto? Como você avalia?
NN – Eu acho que fica muito bom! Realmente me surpreende, eu vejo e ainda me surpreendo de ver que aquilo ali foi gravado do meu estudiozinho.
Acho que fica um padrão realmente muito bom. Pro cara notar algum defeito, você tem que ter ouvido de maestro, como a gente fala: “ouvido absoluto”, que o cara tem que tá realmente num ambiente com muitas caixas de som, com aquele som estéreo. Mas pro cara que vê em casa na sua televisão ou no seu celular, gente tá ótimo não tem o que falar.
Sobre dublagem remota.
“Realmente é um desafio muito grande! O remoto tem sido bem complicado porque não só você recebe áudios gravados em estúdios diferentes, com microfones diferentes…”
Nizo Neto
DB – Há alguns flashbacks na série, com cenas tiradas dos filmes, que não foram redubladas. Você acredita que essa decisão da direção de dublagem, de não colocar novos áudios em português nelas, foi acertada? Acha que o mesmo personagem apresentar duas vozes em favor do valor nostálgico, ficou bacana?
NN – Ah, eu acho que essa decisão de manter os flashbacks originais foi muito acertada! Acho que foi o que deu um charme muito legal!
Traz para público essa coisa gostosa da nostalgia, que infelizmente a redublagem, que eu acho um crime, acaba. Eu acho que é muito mais legal manter, mesmo com as vozes diferentes, acho que existe uma liberdade artística, poetica ali, que o público vai aceitar, como eu acho que tá aceitando, né? Acho que foi muito acertado!