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Making Voz: Batman de Tim Burton: um voo triunfal nos cinemas e nas locadoras com idioma em português.

Em 1989, Batman aterrissou no Brasil misturando sucesso de bilheteria, marketing agressivo e vozes que ajudaram a popularizar a produção.


Em 1989, o diretor Tim Burton apresentou ao mundo sua versão sombria e estilizada do Cavaleiro das Trevas. Batman, estrelado por Michael Keaton como o herói mascarado e Jack Nicholson como um Coringa grotesco e cênico, rapidamente se tornou um fenômeno global. O filme foi um divisor de águas nas adaptações de quadrinhos para o cinema, trazendo uma atmosfera gótica, trilha sonora assinada por Danny Elfman e um apelo visual inesquecível.

No Brasil, o impacto não foi diferente. A estreia nas telonas causou euforia entre os fãs, com filas nos cinemas e uma explosão de produtos licenciados. O nome Batman virou sinônimo de sucesso, e a expectativa pelo lançamento em home video era altíssima.

Batman (1989) sucesso enorme nas telonas e telinhas do mundo todo.

A febre do VHS: locadoras se rendem ao Cavaleiro das Trevas


O lançamento do filme em VHS estava entre os mais aguardados do início da década de 1990. A fita chegou às locadoras brasileiras no dia 20 de fevereiro, em uma edição dublada que conquistou até os mais puristas. Distribuído pela Warner, o longa saiu com tiragem inicial de 45 mil cópias, um número impressionante para a época. Foi lançado sem legendas, privilégio raro, sinal de confiança na qualidade da dublagem nacional.

As principais locadoras apostaram na obra como carro-chefe de carnaval, ao lado de Indiana Jones e a Última Cruzada. Em lojas como Video & Cia, Video Inter e Video Club, o Batman liderava as prateleiras, com campanhas promocionais e destaque absoluto nas vitrines. Era o cinema blockbuster entrando na sala de estar do brasileiro.

O herói, por sua vez, foi dublado por Nilton Valério, veterano respeitado no meio. Nilton já havia dublado Michael Jackson em Fábrica de Ilusões e não teve dificuldade em captar o tom introspectivo de Bruce Wayne. A escolha acertada da voz para cada personagem refletiu um cuidado raro, e foi determinante para que o público brasileiro abraçasse o filme.

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Nos bastidores da voz: Allan Lima e Juraciara Diacovo roubam a cena


Mas o verdadeiro tesouro do filme em VHS estava nas vozes por trás das máscaras. O experiente dublador Allan Lima foi o responsável por emprestar sua voz marcante ao Coringa de Jack Nicholson. Aos 58 anos, com três décadas de carreira e um histórico de narrações jornalísticas, Allan brilhou com uma performance que equilibrou loucura e sarcasmo, arrancando gargalhadas do público sem cair na caricatura.

Ao lado dele, Juraciara Diacovo dublou Vic Veil, a repórter interpretada por Kim Basinger. Dono de uma voz suave e envolvente, Juraciara deu vida a uma personagem que marcou o imaginário dos anos 80. Sua interpretação foi tão impactante que ela mesma declarou: “Kim Basinger me empresta o corpo; eu empresto a ela minha fala”.

Quando a dublagem vira parte do legado


Uma pesquisa da DataFolha, encomendada pela Warner em 1990, revelou que 52% dos brasileiros preferiam assistir aos filmes dublados. No caso de Batman – O Retorno, também dirigido por Tim Burton, esse número foi crucial para o lançamento dois dois filmnes com duas versões (dublada e legendada), atendendo todos os gostos.

No fim das contas, a dublagem do Batman de 1989 não foi apenas uma solução técnica. Foi uma ponte entre a grandiosidade de Hollywood e o coração do público brasileiro. Graças a vozes como as de Allan Lima, Juraciara Diacovo e Nilton Valério, o morcego não apenas voou sobre Gotham, mas também encontrou abrigo nas salas e memórias de milhares de brasileiros.

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Um megasucesso que teve a primeira dublagem realizada pela Sincrovídeo

Elenco secundário: a força de bons dubladores 


Além do trio principal, a escalação da dublagem feita pela Sincrovídeo merece aplausos também por seu elenco de apoio. Com direção de Luis Manuel, a escolha dos nomes foi feita com rigor técnico e sensibilidade artística. Ênio Santos, por exemplo, emprestou sua voz firme ao Comissário Gordon, enquanto Ribeiro Santos interpretou Alfred com a elegância que o mordomo exige. Ambos eram nomes consagrados, com vasta experiência em personagens de peso.

Outros destaques incluem Ayrton Cardoso como Harvey Dent, com uma entonação segura e autoritária, e Antônio Patiño no papel do tenente Eckhardt, conferindo densidade a um personagem tenso. Esse conjunto de vozes consolidou a dublagem como parte essencial da experiência de assistir ao “Batman” de Tim Burton no Brasil.

Mais de três décadas depois, o Batman de 1989 continua sendo lembrado como um marco não apenas pelo cinema, mas também pela história da dublagem brasileira. A primeira dublagem feita pela Sincrovídeo não apenas traduziu falas, mas traduziu intenções, emoções e atmosferas. Foi através dessas vozes que o público brasileiro enxergou Gotham sob uma nova luz — ou melhor, sob sombras profundas e estilizadas. É um exemplo de como a dublagem, quando feita com respeito artístico e inteligência vocal, deixa de ser mero recurso técnico e se transforma em patrimônio cultural. E assim, com microfone, estúdio e talento, o Cavaleiro das Trevas ganhou cidadania brasileira.

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Izaías Correia
Professor, roteirista e web-designer, responsável pelo site InfanTv. Também é pesquisador da dublagem brasileira.

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