Do cinema à televisão, a história de amor e maldição ganhou nova vida nas vozes brasileiras que marcaram o país.
O Feitiço de Áquila (Ladyhawke) não é apenas mais um filme de fantasia dos anos 80; é uma marca importante na indústria daquela década, que mistura com maestria aventura, romance e um toque de mistério sobrenatural.
Lançado em 1985 e dirigido pelo renomado Richard Donner — famoso por sucessos como Superman — o filme conta a história épica do casal Navarre (interpretado por Rutger Hauer) e Isabeau (Michelle Pfeiffer), cuja união é amaldiçoada de forma trágica: durante o dia, Isabeau se transforma em um falcão, e à noite, Navarre vira um lobo. Um amor condenado à impossibilidade física, mas não ao desespero, que é justamente onde o jovem ladrão Philippe Gaston (Matthew Broderick) entra, trazendo leveza e esperança para esse conto sombrio.
Visualmente, o filme é um deleite: cenários medievais detalhados e uma fotografia que combina tons sombrios e líricos, criando um ambiente perfeito para contar essa história de magia e redenção. Ainda hoje, Ladyhawke é lembrado por sua atmosfera única, que transcende o tempo, conquistando fãs que sonham com contos de fadas sombrios.

O Brasil recebeu O Feitiço de Áquila nos cinemas apenas em 22 de julho de 1985 — e, desde então, o filme passou a fazer parte do imaginário daqueles que frequentavam as salas escuras, encantados por essa fábula de amor e magia.
No entanto, foi na sua estreia nas telinhas, pela Globo, em 27 de junho de 1988, dentro da faixa Tela Quente, que o filme atingiu o ápice de sua popularidade nacional.
Para muitos brasileiros, foi ali, no aconchego de casa, que se apaixonaram por essa história, acompanhando atentamente a jornada dos personagens entre lobos, falcões e humanos. A televisão ampliou o alcance do filme de forma monumental, alcançando públicos que talvez jamais o vissem no cinema, principalmente porque o filme trazia uma excelente dublagem.
Quando a Voz Vira Feitiço e Encanta o Telespectador.
A dublagem brasileira de O Feitiço de Áquila realizada pela Telecine é simplesmente um espetáculo à parte, um verdadeiro tratado de profissionalismo, emoção e talento que merece todos os aplausos.
Começando pela delicadeza ímpar de Vera Miranda como Michelle Pfeiffer — que, aliás, já era seu “boneco” em outras produções — Vera traz uma doçura e sensibilidade únicas à voz de Isabeau, transmitindo toda a fragilidade e força da personagem com uma naturalidade tocante. É impossível não se emocionar com sua interpretação, que eleva a personagem a um nível quase mítico na versão brasileira.
Por outro lado, o imponente Julio César está perfeito como a voz de Rutger Hauer. Com seu vozeirão grave, cheio de presença e dramaticidade, ele encarna perfeitamente o espírito sombrio e atormentado de Navarre, equilibrando intensidade e firmeza em cada frase. Sua voz forte se tornou quase sinônimo do personagem para muitos fãs brasileiros, provando o poder que uma boa dublagem tem em marcar gerações.

Mas é na performance do irreverente Nizo Neto como Gaston (Matthew Broderick) que a dublagem brilha de forma especial. Nizo entrega uma interpretação agitada, elétrica e cheia de timing perfeito para o humor do personagem, sempre conversando com Deus de forma divertida e espirituosa. É um casamento perfeito entre voz, rosto e personalidade, que traz leveza e carisma para o filme, equilibrando o tom mais sério e dramático dos outros protagonistas.
O timing cômico de Nizo Neto transforma Gaston em um personagem ainda mais memorável e querido, a exemplo do que fez com Broderick em Curtindo a Vida Adoidado.
E não podemos deixar de destacar o elenco de apoio, que também faz um trabalho primoroso e que confere ainda mais densidade ao universo do filme. Cada voz é uma peça chave que contribui para a construção de um mundo crível e encantador. Entre eles, vale mencionar: Ribeiro Santos cuja voz rouca dá o tom exato para o velho enigmático Frei Imperius; o Bispo de Áquila de John Wood feito pelo marcante de Nilton Valério, transmitindo autoridade e sabedoria; e Lauro Fabiano como o Marquet, vivido por Ken Hutchison, cuja performance traz uma pitada de rusticidade.
O Feitiço de Áquila é um daqueles filmes que atravessam gerações, não apenas pela força da sua história, mas pela forma como foi apresentado ao público brasileiro. Para muitos, a primeira memória desse conto medieval veio da televisão, acompanhada das vozes marcantes que deram vida aos personagens.
Foi entre lobos, falcões e diálogos inesquecíveis que o filme conquistou seu lugar definitivo na memória afetiva de uma geração. E ainda hoje, ao reverem a versão dublada, muitos se sentem transportados de volta àquele universo de magia, romance e aventura — como se reencontrassem um velho conhecido de outras eras.
Elenco de Dublagem:













