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A dublagem no cinema brasileiro.

O motivo das produções cinematográficas brasileiras serem dubladas no início da sua trajetória e como isso acontecia.

 

O problema do áudio nos filmes nacionais sempre foi uma espécie de “perseguição” a qual nunca pode escapar. Com efeito, se relembrarmos as chanchadas da década de 1940, a grande saída era torná-las um musical, a fim de que pouco se percebesse a grande dificuldade de uma captação do som, mesmo dentro de um cenário, em externas era impossível.

O editor de som, microfonista e compositor de trilha musical Gustavo de Souza opina: “duran-te muito tempo o som de filmes brasileiros era inaudível. Hoje, a situação melhorou bastante. Mesmo assim é possível observar falhas de captação. Será um problema de equipamento? Não! Este aspecto faz parte de uma característica da escola brasileira de fazer cinema, que não dá a importância necessária ao som.”

Aqui, devemos frisar que as salas de cinema também não estavam preparadas para os filmes brasileiros, já os longas americanos não demonstravam essa questão por dois motivos: o investimento no áudio era muito superior ao nosso e, mesmo que algum filme apresentasse um som mais difícil, todos entendiam, porque simplesmente tinham as legendas para solucionar a compreensão dos diálogos.

O Pagador de Promessas, a obra-prima de Anselmo Duarte precisou ser dublada.

“A década de 1950 marca, em São Paulo, a tentativa de se implantar a indústria cinematográfica, juntamente com a inauguração de um importante movimento teatral, marcado pela fundação do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia) e a implementação das artes plásticas, abrindo as portas do MAM (Museu de Arte Moderna). A fundação da Vera Cruz fez parte de um projeto estético cultural mais amplo, que previa para São Paulo a vitalização da vida cultural, conduzida pela burguesia industrial buscando uma hegemonia na vida política e cultural do país.

A produção da Vera Cruz era caracterizada por um sistema de estúdios, com a preocupação de produzir industrialmente seus filmes, que constituíam dramas universais, no melhor estilo hollywoodiano, lançando no mercado um verdadeiro star-system composto por nomes como de Tônia Carrero, Anselmo Duarte, Jardel Filho, Marisa Prado, Eliane Lage entre outros:

“O grande salto dado pela Vera Cruz foi sem dúvida o qualitativo técnico, pois era bem equipada, contava uma equipe técnica – maior parte estrangeira – que trazia consigo a experiência de fora, suas produções traduziam a preocupação de ser um cinema sério, bem diferente das chanchadas cariocas produzidas pela Atlântida. No entanto os motivos de fracasso do estúdio são, entre outros, alto custo dos seus filmes, a ausência de uma distribuidora própria – sofrendo dificuldades de escoar seus produtos ao mercado e salas de cinema brasileiras.

Dublar é a Solução.

É nesse período (1950-54), que surge a ideia da dublagem dos filmes nacionais, assim, com o som de estúdio, o telespectador conseguiria compreender muito bem. Mas, estamos falando do início da década de 1950, quando a dublagem nem existia para a televisão, era algo ainda muito arrojado. Dessa forma, a opção natural era que os próprios atores fizessem a dublagem de seus personagens, porém nem todos conseguiam.

Grandes problemas começaram a ocorrer, uma vez que a maioria dos atores não conseguia realizar a dublagem. Após algumas tentativas, Adolfo Celi resolveu convidar radioatores, que dublaram nos próprios estúdios da Vera Cruz. Assim, a atriz Eliane Lage ficou com a voz da radioatriz Gessy Fonseca. O problema persistiu por muito tempo e, é lógico, que o público sempre criticou o áudio do cinema nacional. A falta de incentivo do governo brasileiro à Cultura, os altos custos para equipamentos sempre fizeram que o cinema nacional recorresse à dublagem.

O dublador Arakén Saldanha era a voz do Zé do Caixão.

Após o início da dublagem para a televisão, com estúdios em São Paulo e no Rio de Janeiro, adotou-se como prática comum a finalização sonora num estúdio de dublagem durante toda a década de 1960, 70 e até quase o final da de 80. Em São Paulo, em 1963, com o surgimento do estúdio Odil Fono Brasil, abriu-se um grande canal para as dublagens do cinema brasileiro. A AIC, praticamente, era dominada para as dublagens de filmes americanos, desenhos e séries de TV.

Sendo assim a Odil foi um estúdio que talvez tenha realizado um número maior de finalizações sonoras para filmes brasileiros, ganhando até do estúdio Herbert Richers. Embora a AIC tenha dublado diversos filmes brasileiros, principalmente os produzidos por Zé do Caixão, a Odil Fono Brasil e a Herbert Richers foram os dois estúdios que mais dublaram filmes nacionais.

Dessa forma, em todos os filmes criou-se algo muito curioso: tínhamos as vozes dos atores principais (quando conseguiam dublar os seus personagens) e dubladores conhecidos para personagens secundários, às vezes, até para os protagonistas. No filme “Um Certo Capitão Rodrigo”, produzido na dédada de 1970, protagonizado pelo falecido ator Francisco Di Franco, encontramos a voz do dublador Lauro Fabiano.

A situação do áudio no cinema brasileiro é algo que até hoje ainda não está totalmente resolvido, devido aos altos custos para investimento.

Marco Antônio dos Santos
Professor, pesquisador de dublagem e responsável pelo blog Universo AIC.

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