A melhor dublagem já realizada para o ator Orson Welles foi obra de Waldyr Guedes, num primoroso trabalho da AIC.
Rosebud.
A história de Cidadão Kane conta como o repórter Jerry Thompson reconstitui a trajetória do empresário da imprensa Charles Foster Kane, buscando decifrar o significado de sua última palavra no leito de morte: “rosebud”. A morte de Kane comovera a nação e descobrir o porquê daquela palavra se torna uma obsessão para o jornalista, que acredita poder encontrar nela a chave do significado daquela vida atribulada.
O repórter entrevista, então, as pessoas próximas a Kane. Um emaranhado de informações vai se costurando, desde a infância pobre, revelando um Kane por vezes perturbado, mas sempre ambicioso. Essa multiplicidade de fontes usadas pelo repórter cria um conjunto de perspectivas diferentes, funcionando como peças do quebra-cabeças que os espectadores vão montando.
Kane herda uma fortuna e deixa de viver com os pais para ser criado por um banqueiro, Walter Parks Thatcher. Dentre todos os negócios que passam às suas mãos na maioridade, resolve dedicar-se ao jornalismo.
Atraindo as estrelas dos veículos concorrentes com salários maiores e praticando um jornalismo agressivo (que frequentemente descamba para o sensacionalismo), Kane, ajudado por seu melhor amigo, Jedediah Leland, consegue construir um verdadeiro império da mídia. Quando se casa com Emily Norton, sobrinha do Presidente, Kane é um dos homens mais poderosos da América.
Tenta carreira na política, concorrendo a governador como candidato independente; quando parece ter a vitória nas mãos, o outro candidato, Jim Gettys, traz a público um ‘caso’ de Kane com Susan Alexander, cujo escândalo provoca sua derrota. Logo a seguir, ele se divorcia de sua primeira esposa, casa-se com Susan e se isola em seu inacabado palácio de Xanadu. Com o passar dos anos, ele se torna cada vez mais amargo, até que Susan, cansada do isolamento em Xanadu, o deixa.
Depois de dois casamentos fracassados, passa seus últimos dias sozinho no palácio que construiu e para o qual levou tudo que o dinheiro podia comprar, desde obras de arte de valor inestimável até os animais mais exóticos do planeta.
Aos poucos, vai perdendo suas virtudes e aumentando seus defeitos. Pode ser retrospectivamente visto como alguém amargo, sombrio, arrogante, manipulador, cruel e impiedoso. Sua trajetória, no entanto, encerra muito do sonho americano: idealismo, espírito de iniciativa, fama, dinheiro, poder, mulheres, imortalidade.
Como filme, Cidadão Kane é um poderoso e dramático conto sobre o uso e abusos do dinheiro e do poder. É uma clássica tragédia americana sobre um homem de grande visão e de grande cobiça que chega ao topo e, depois, arruína-se e aos que estão à sua volta.
Um dos aspectos que tornam esse filme uma verdadeira obra-prima visual é, sem dúvida, a memorável fotografia de Gregg Toland. O filme faz uso de flashbacks, sombras, tem longas sequências sem cortes, mostra tomadas de baixo para cima, distorce imagens para aumentar a carga dramática; a iluminação é pouco convencional, o foco transita do primeiro plano para o background, os diálogos são sobrepostos e os closes usados com contenção. Na realidade, é impossível discutir Cidadão Kane sem mencionar Toland.
Sem contar com a genialidade de Orson Welles, o elenco principal é de primeiríssima linha, com interpretações sempre perfeitas.
A Dublagem.
Este filme foi dublado , conforme nossos registros, no ano de 1966. A dublagem foi realizada em pleno apogeu da AIC.
Há diversos dubladores que participam, até em personagens menores, e que dão um destaque de suas participações.
Neste filme, sem dúvida alguma, é a melhor dublagem para ator Orson Welles, a qual foi realizada por Waldyr Guedes. Um trabalho primoroso deste “Mágico da Voz e Interpretação”.
Kane apresenta diversas fases, do entusiasmo da juventude, da maturidade já com sua experiência nos negócios e a sua velhice. Em todas elas, Waldyr Guedes conduziu brilhantemente o seu desempenho.
É difícil de dizermos se esta dublagem foi a melhor de Waldyr Guedes. Alguns dubladores da época a consideram, mas o conjunto da obra deixada é vastíssimo e não nos atrevemos a considerar a dublagem de Kane como a melhor de Waldyr Guedes.
Acreditamos que, dentre todas as espetaculares que realizou, esta foi mais uma extraordinária. A dublagem de Waldyr Guedes mereceria um estudo mais aprofundado de toda a sua obra, como uma tese, para analisarmos com critérios a qualidade deste artista.
Merecem destaque as dublagens de Wilson Ribeiro, Dráusio de Oliveira, Líria Marçal, Neuza Maria, Xandó Batista e Borges de Barros.
O filme inicia com uma narração sobre a vida de Kane, a qual Neville George faz como se estivéssemos realmente assistindo a um documentário.
Uma dublagem ímpar, que se torna impossível compará-la até com outras excelentes da própria AIC.