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Baú da Dublagem: CHiPs e a dublagem que inspirou Philippe Maia a ingressar no setor.

Patrulhando os televisores do mundo inteiro.


Em 15 de setembro de 1977, foi ao ar o primeiro episódio da série CHiPs, programa americano que tornou-se um dos maiores sucessos da televisão mundial. Produzida por Rick Rosner, a primeira temporada contou com 22 episódios que foram exibidos na emissora ABC até 1° de abril de 1978. No total foram seis temporadas.

A série era focada nas aventuras de dois patrulheiros rodoviários da “California Highway Patrol” (Polícia Rodoviária da Califórnia), John Baker (Larry Wilcox) e Frank Poncherello (Erik Estrada). Sob o comando do Sargento Joe Getraer (Robert Pine), ambos mantinham a ordem na rodovia Golden State’s, sempre em dupla e pilotando suas motos Kawasaki.

Os protagonistas enfrentavam situações perigosas tendo que administrar as diferenças de personalidade de ambos, pois enquanto Poncherello era explosivo e inconsequente, seu parceiro Baker era mais ponderado e sempre questionava o jeitão livre de Ponch.

A trilha sonora de CHiPs é um destaque a parte. O tema original composto por John Carl Parker, foi usado apenas na primeira temporada. Em seguida o renomado Alan Silvestri passou a assinar a música do programa, dando uma revitalizada na trilha, deixando a abertura mais rápida e criando um tema para cada episódio.


Muitas substituições no elenco e constantes ameaças de Erik Estrada de deixar a série, fizeram despencar a audiência na sexta temporada, até que os produtores decidiram cancelá-la em 1983.

Frank Poncherello (Erick Estrada) e John Baker (Larry Wilcox), astros de CHiPs.

Fenômeno de audiência no Brasil.


CHiPs estreou no Brasil em 1979 na TVS onde ficou até 1982. Em junho do mesmo ano passou a ser exibida pela Rede Record até o fim do ano de 1985. Em 1988 esteve na Bandeirantes e em seguida foi mostrada na extinta Rede Manchete de 1988 até 1993. Foi ainda apresentada na TNT no início dos anos 90.

Depois de um longo período fora da televisão brasileira, CHiPs voltou ao ar em 2007 no canal TCM. Sua última exibição foi entre maio e julho de 2009 na Rede Brasil.

Durante seu período de veiculação por aqui o seriado alcançou um enorme sucesso. Naturalmente os adultos gostavam dos atrativos do programa, patrulheiros, máquinas velozes e mulheres sexys se encarregavam de segurar os marmanjos em frente à telinha. Mas como atrair a criançada?

Como um dos primeiros seriados no Brasil com uma sólida publicidade, e sabendo que os pequenos eram os grandes responsáveis pela escolha da programação em família, a Turner Entertainment firmou uma parceria com a Glasslite para gerar uma linha de brinquedos que iam de miniaturas até roupas completas dos patrulheiros. Como resultado, não demorou para que a dupla de protagonistas se transformasse nos heróis das crianças no início dos anos 80.

Larry Wilcox veio ao Brasil, gravou um comercial e participou do Programa Silvio Santos, onde agradeceu aos fãs, em português, pelo sucesso da série em nosso país. Chegou a encontrar-se com o ícone brasileiro dos patrulheiros rodoviários, o ator Carlos Miranda, astro da série O Vigilante Rodoviário.

CHiPs, sucesso refletido na quantidade de produtos licenciados no Brasil.

Californianos com vozes brasileiras.


Quando foi adquirida pela TVS em 1979, a emissora costumava dublar suas produções em São Paulo, requisitando assim o trabalho de adaptação da BKS. Logo que Neide Pavani assumiu a direção do trabalho de adaptação começou a escolher o elenco de dublagem.

Para dar voz brasileira ao astro Erik Estrada, foi escalado o dublador Ricardo Marigo, que até aquele momento tinha poucos trabalhos de destaque no setor e nenhum protagonista. Ele recorda que na época estava dublando em Gato Felix, quando foi chamado para fazer um teste para um seriado que estrearia com dois protagonistas. “Fiz o teste do ator moreno, fora de sincronismo de qualquer jeito, no outro dia quando cheguei na BKS meu nome estava na pedra, escalado para dublar a série!”.

Para emprestar a voz ao patrulheiro John Baker, Neide chamou outro novato, o dublador Aníbal Munhoz, que casou perfeitamente com o tipo composto por Larry Wilcox. Não se sabe a razão até hoje, mas ele só dublou o personagem na primeira temporada, sendo substituído por Hamilton Ricardo nos episódios seguintes. Aníbal voltou ainda à série na sexta temporada quando passou a dar voz ao personagem Bruce Nelson (Bruce Penhall), além de algumas pontas em várias histórias.

Como resultado, Hamilton Ricardo acabou tornando-se o dublador mais popular do Baker, de forma que é difícil não associar sua voz quando vemos o patrulheiro. Em depoimento ao site InfanTv em 2011 o dublador confessou: “John Baker foi meu primeiro grande trabalho, sinto falta de fazer porque foi um momento muito importante pra mim. Ainda hoje sou lembrado por aí pela voz do Baker em CHiPs“. Ricardo faleceu no dia 10 de agosto de 2015.

Para fazer o Sargento Joseph Getraer foi chamado um dublador com mais experiência na área, Gervásio Marques, que já tinha protagonizado títulos como Batman (1966) e A Feiticeira. No entanto, Marques também só dublou a primeira temporada, sendo substituído por Renato Márcio que fez o Joe da segunda temporada até o início da terceira, quando Carlos Campanille assumiu a voz do personagem permanecendo até o final.

O assédio à dublagem brasileira na época era quase inexistente, mas como CHiPs tornou-se um grande sucesso, as vozes brasileiras da dupla de patrulheiros encantavam principalmente o público feminino. Marigo recorda que recebeu certa vez a carta de uma fã do interior de Minas Gerais querendo conhecê-lo.

Marigo afirma que após começar a fazer o Ponch, também tornou-se fã da série: “Tinha tudo que eu gostava, se passava na Califórnia, com veículos e mulheres bonitas”. Na verdade, o dublador praticamente nasceu num caminhão, sua vida estava sempre ligada às estradas, elemento fundamental do seriado. “Eu comecei a dublar por conta de um caminhão. Vendi um que tinha e com o dinheiro dele fui me mantendo sem receber salário enquanto aprendia a profissão de dublagem”.

Na segunda temporada da série outra voz estreou no programa que merece ser destacada, a de Ismael Vieira, levado para a dublagem por seu amigo de infância Hamilton Ricardo. Ele fez o mecânico Harlan Arliss (Lou Wagner), personagem que teve o dublador mudado apenas na sexta temporada, quando foi feito por Eleu Salvador.

Entre outras vozes marcantes que passaram pela série, destaque para Waldyr de Oliveira fazendo o personagem Arthur Grossman (Paul Linke), Márcia Gomes emprestando a voz à Bonnie Clark (Randi Oakes) e Marcelo Belo como Barry Baricza (Brodie Greer), substituído por Leonardo Camillo da terceira temporada em diante.

Ricardo Marigo (voz do Poncherello) e Philippe Maia (fã da série e hoje dublador).

Fã da dublagem de CHiPs que tornou-se dublador por conta da série. 


Entre as crianças que assistiam CHiPs estava o hoje dublador Philippe Maia, apaixonado pela série até os dias atuais. O pai comprou um video-cassete quando ele tinha por volta de dois anos de idade, e gravava os episódios acreditando que Philippe gostaria do programa. “Todo dia antes de ir para escola minha mãe colocava pra eu assistir”, comenta. Com aproximadamente quatro anos de idade, Maia já era fã do seriado.

O fascínio de Philippe Maia por CHiPs acabou rendendo experiências memoráveis. Ele conta: “Em 2012 eu fui pra festa de 35 anos da estreia da série, aí eu conheci o elenco inteiro, menos o Erik Estrada que não participou desse evento. E eu tenho contato com alguns dos atores”.

Maia também acabou aparecendo no programa Newswire L.A., que cobriu a festa de 35 anos do seriado, ele aparece em vários momentos, inclusive apertando a mão do Michael Dorn, intérprete do Oficial Jebediah Turner.

Philippe Maia e o ator Larry Wilcox (Jonathan Baker).

Seu interesse pela série o fez colecionar episódios e até a criar um site em 1998, que lhe rendeu a oportunidade de conhecer outros fãs espalhados pelo mundo. “Fiz um amigo no Texas que tenho contato até hoje, por incrível que pareça chamado Larry também”. Quando o longa-metragem CHiPs 99 (Jon Cassar – 1998) foi lançado, Philippe Maia chegou a receber uma cópia pelo correio enviado pelo amigo americano, tendo a oportunidade de vê-lo em primeira mão.

Na verdade, o programa tem uma importância na sua vida que ultrapassa o conceito de entretenimento, pois além de ter sido uma “escola de vida”, foi certamente o maior responsável por ele ter escolhido a carreira de dublador. “CHiPs é a coisa que mais gosto na vida! Eu sou dublador por causa do CHiPs! Eu tive vários professores, várias pessoas que foram muito generosas comigo, mas quem me levou pelo braço para a dublagem foi o Hamilton Ricardo”, esclarece.

Maia guarda com carinho instantes da festa de 35 anos da estreia da série.

Ele admira até hoje a qualidade de interpretação de todo o elenco brasileiro de vozes e considera que tenha iniciado ali seu interesse pelo setor. “Foi uma verdadeira escola, eles marcaram muito a minha vida e é uma honra ter amizade com muitos deles hoje em dia.” confessa Philippe.

A carreira de Maia na dublagem alavancou ao longo dos anos, é hoje a voz brasileira de vários atores consagrados como: Ryan Reynolds, Tom Cruise, Bradley Cooper e Joel Edgerton. É o narrador da série Todo Mundo Odeia o Chris, o Lanterna Verde nas animações da Liga da Justiça e o Relâmpago em Os Jovens Titãs. Além disso, também dirige dublagem, como no cuidadoso trabalho em Stranger Things.

O dublador reconhece que os bons exemplos passados pelo programa ao longo das temporadas tiveram uma parcela de contribuição para sua formação e por sua admiração por forças policiais. CHiPs, foi essa importante referência também na vida de outros tantos que a assistiram, por essa razão está guardada com muito carinho na memória afetiva de toda uma geração.

Philippe Maia ao lado de uma das motos usadas em CHiPs.
Izaías Correia
Izaías Correia
Professor, roteirista e web-designer, responsável pelo site InfanTv. Também é pesquisador da dublagem brasileira.

One Reply to “Baú da Dublagem: CHiPs e a dublagem que inspirou Philippe Maia a ingressar no setor.

  1. Essa série eu gostava muito, justas por intermédio de minha mãe que não perdia os episódios! Show!

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