Destaques Por Trás da Dublagem

Silêncio na Sala: Mônica Vai Falar! Conheça a primeira dubladora da Mônica.

  

A dentuça mais famosa do Brasil ganhou voz pela primeira vez em comerciais de extrato de tomate — e Magali Sanches fez todo mundo comprar o produto.

Era uma tarde qualquer em São Paulo quando Mauricio de Sousa, cercado por pilhas de desenhos e prazos apertados, olhou para a filha pequena e viu algo que nenhum pai rabugento deixaria passar: um furacãozinho de saias, brava, decidida, com o cabelo escorrido e o dentinho pra frente. Pronto. Nascia ali a menina que colocaria meninos de castigo e o Brasil inteiro no bolso: Mônica.

Maurício de Souza, o cérebro por trás da turminha

Nos tempos em que as histórias do Bidu ainda eram o carro-chefe das bancas, Mauricio já se inspirava nas figuras do seu cotidiano — amigos, vizinhos, colegas de redação. Mas foi sua própria filha quem virou a centelha criativa que faltava. De uma criança de três anos, geniosa e cheia de atitude, surgiu uma personagem que falava alto, mandava mais ainda e não pedia desculpas por isso.

A Mônica dos gibis ganhou vida, amigos e uma turma inteira: o Cebolinha com seus planos infalíveis, o Cascão e sua aversão crônica à água, a doce Magali (inspirada em outra filha de Mauricio, claro) e tantos outros que, com o tempo, viraram mais do que personagens — tornaram-se parte da infância nacional.

Do papel para a tela — e para o molho de tomate!

Mas como transformar papel e tinta em movimento, som e… sabor?

A resposta veio de um lugar curioso: a cozinha da CICA, famosa por seu extrato de tomate. A marca precisava de uma campanha publicitária que fosse mais do que só apetite — precisava de carisma. Foi aí que entrou Jotalhão, o elefante verde criado por Mauricio, escolhido como símbolo da marca.

Em 1968, o desenhista Maurício de Souza publicou no jornal Folha de São Paulo uma tirinha onde a Mônica puxava o elefante Jotalhão pela tromba, enquanto Cebolinha dizia: “não sei não, mas acho que sua mãe pediu foi massa de tomate”. A piada se referia ao engano da Mônica, pois sua mãe havia pedido um extrato de tomate que tinha a marca de um elefante no rótulo e ela confundiu e levou o desajeitado Jotalhão. Foi então que o personagem foi oferecido para a CICA em 1969.

A agência Proeme encabeçou a ideia, e o resultado foi um sucesso: comerciais animados e cheios de humor. E se o Jotalhão ganhava vida nas telas, era natural que Mônica também entrasse em cena — berrando, claro, do jeitinho que o público amava.

O primeiro comercial da Cica com Mônica e Jotalhão.

A vozes por trás da turminha!

E quem, afinal, daria voz à menina mais temperamental dos quadrinhos brasileiros?

A resposta veio dos estúdios da Rádio Nacional de São Paulo: Magali Sanches. Veterana dos microfones, com quase duas décadas de carreira, Magali já tinha dado vida a crianças, idosos e até a rapazes de 18 anos — “e saiu direitinho!”, contou a dubladora na época.

Na dublagem da Mônica, Magali encontrou o equilíbrio perfeito entre o tom infantil e a energia explosiva da personagem. Seu grito de “Cebolinhaaa!” ecoou por rádios, televisões e corações — e se tornou parte da memória afetiva de uma geração.

Além dela, estavam Murilo de Amorim Corrêa, a voz do elefante Jotalhão; Yvete Jayme, que fazia as vozes do Cebolinha e do Cascão; e Judi Texeira, que dava vida à mãe da Mônica. Todos veteranos da era de ouro do rádio, quando o poder da voz era suficiente para criar mundos inteiros dentro da cabeça dos ouvintes.

A dupla que debutou Maurício de Souza na TV

Entre risadas e lições de casa, a Mônica de verdade — a filha de Mauricio de Sousa — garantia que era tão levada quanto a personagem dos gibis. “Mamãe diz que eu sou briguenta, mas também gosto de estudar e de piadas”, dizia, divertida na época, sem imaginar que, na televisão, outra Mônica já falava por ela.

Magali Sanches, veterana do rádio e da TV, que emprestava seu timbre firme e cheio de energia à dentuça mais famosa do Brasil. Viúva e mãe de dois filhos, Magali trabalhava na Rádio Nacional de São Paulo e era presença constante nos programas de Silvio Santos e Jacinto Figueira. Fazia dublagens de todo tipo. cada comercial lhe rendia NCr$ 100,00.

Murilo de Amorim Corrêa, o comediante conhecido dos tempos da “Praça da Alegria”, era quem falava pelo simpático elefante Jotalhão. Murilo já havia emprestado sua voz ao tigre da Kellogg’s e ao Gordo da Armour, mas achava graça quando confundiam seu nome — “até já colocaram o do cantor Roberto Barreiros no meu lugar!”, dizia, rindo.

Elenco de Dublagem:

Avatar photo
Izaías Correia
Professor, roteirista e web-designer, responsável pelo site InfanTv. Também é pesquisador da dublagem brasileira.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *