Nem todo detetive da TV dos anos 1980 precisava ser espalhafatoso ou agir em meio a explosões. Alguns resolviam mistérios com elegância, inteligência e um toque de charme maduro. É o caso de Operação Devlin, uma série policial estrelada por ninguém menos que Rock Hudson. Exibida por pouco tempo, a produção ficou marcada no Brasil pela excelente dublagem feita pela Herbert Richers, que ajudou a dar vida a personagens carismáticos e a torná-la memorável para quem acompanhou suas poucas, mas sofisticadas aventuras.

Elegância investigativa em horário nobre

Operação Devlin (Devlin Connection, no original) foi ao ar originalmente entre outubro e dezembro de 1982, pela rede NBC. A série foi produzida por Jerry Thorpe e apostava num formato clássico de dupla investigativa: um ex-agente secreto aposentado e um jovem destemido, recém-chegado ao ramo. O diferencial? A sofisticação do protagonista, interpretado por Rock Hudson, numa de suas últimas atuações na televisão.

Hudson vivia Brian Devlin, um ex-espião que agora dirigia o Performing Arts Center em Los Angeles, mas que de vez em quando voltava ao jogo investigativo para resolver casos ao lado de seu filho, Nick Corsello (Jack Scalia), um detetive particular impulsivo e corajoso — e com quem o próprio Devlin só recentemente havia estabelecido uma relação.

Apesar do charme e da boa química da dupla, a série teve apenas 13 episódios produzidos. Foi mais uma daquelas joias que brilham intensamente por um curto espaço de tempo.

A Chegada ao Brasil: curto prazo, memória duradoura

No Brasil, Operação Devlin estreou em 5 de janeiro de 1983 nas noites da Rede Globo, ocupando a faixa das 21h30 durante o recesso dos humorísticos da emissora. Mesmo com seus poucos episódios, causou impacto: havia um apelo adulto na forma como os roteiros misturavam ação e charme. A série logo saiu do ar, mas teve um breve retorno em 1986, dentro da Sessão Aventura, exibida às 19h.

Com a habitual elegância da Globo em programação estrangeira, Operação Devlin foi encaixada com inteligência na grade, em horários que permitiam uma boa visibilidade ao público adulto — e, claro, manteve sua dublagem intacta.

A voz brasileira refinada de Brian Devlin

A dublagem de Operação Devlin foi realizada pela Herbert Richers, e como era de costume nos anos 1980, a escalação de vozes refletia um cuidado com o perfil dos personagens. Márcio Seixas, um dos mais icônicos dubladores brasileiros, emprestou sua voz a Brian Devlin, reforçando ainda mais o tom elegante, culto e levemente sarcástico de Rock Hudson. Seixas, conhecido por dar voz a astros como Clint Eastwood e Sean Connery, estava em plena forma.

Ao seu lado, Nelson Batista assumia a voz de Nick Corsello, jovem detetive que servia como contraponto impulsivo ao pai. A dinâmica entre os dois dubladores funcionava perfeitamente, com uma energia que os roteiros originais também promoviam.

Outro destaque técnico da versão brasileira é a leitura dos títulos, feita por Ricardo Mariano Dublasievicz, com sua voz segura e clássica, uma marca das produções da Herbert Richers para a TV Globo.

Embora a direção de dublagem da série não esteja confirmada, a coesão e o padrão de qualidade apontam para o trabalho de algum dos diretores experientes da casa — provavelmente um dos nomes fortes do núcleo dramático da Richers à época.

Uma série breve, uma dublagem duradoura

Operação Devlin não virou fenômeno de audiência e não está entre os seriados mais lembrados dos anos 80, mas ainda assim deixou uma marca duradoura. Muito disso se deve à performance de Rock Hudson, que trouxe dignidade e charme ao seu personagem. Mas no Brasil, o impacto só foi completo graças à dublagem. A voz de Márcio Seixas como Devlin praticamente fundiu-se ao personagem — e é assim que muitos fãs o recordam até hoje.

Num tempo em que a dublagem brasileira era artesanal, feita com elenco enxuto e compromisso artístico, Operação Devlin brilha como exemplo de como um trabalho técnico pode dar nova vida a uma série que, mesmo curta, continua viva na memória dos que a assistiram.