Elenco de Dublagem - Séries

Pistols 'n' Petticoats

As Valentonas

DIREÇÃO DE DUBLAGEM:

Milton Rangel

ESTÚDIO DE DUBLAGEM:

Cinecastro

MÍDIAS:

Televisão

Elenco Principal

Aparições Recorrentes

A Dublagem

Lançada nos Estados Unidos em setembro de 1966, Pistols ’n’ Petticoats foi uma comédia western que saltou para a boca do povo pelo contraste entre o ambiente rústico do Velho Oeste e uma família de mulheres que não tinham medo de pegar em arma — as eternas “valentonas”.

No Brasil a série ganhou o título As Valentonas (também veiculada como As Valentonas do Oeste em reprises) e estreou em meio ao fim da década de 1960 na grade da extinta TV Excelsior, integrando a leva de seriados americanos que chegaram ao público brasileiro já dublados para o português.

 

Xerifes de saias e humor no Oeste

Criada por George Tibbles e produzida pela Kayro-UTV/Universal para a CBS, Pistols ’n’ Petticoats teve apenas uma temporada, com 26 episódios exibidos entre setembro de 1966 e março de 1967. A proposta era simples e simpática: os Hanks — família matriarcal composta pela matriarca (Henrietta), a avó Effie, o avô Andrew e a neta Lucy — acabam se tornando a autoridade prática na pequena cidade de Wretched, Colorado, porque cuidam melhor da ordem que o próprio xerife Harold Sikes. A série mistura tiroteios cômicos, antagonistas caricatos (como o chefe de bando Buss Courtney) e episódios construídos em torno de mal-entendidos, resgates e do conflito entre o senso de missão da família e o ciúme profissional do xerife. 

A produção também foi marcada por um fato triste: Ann Sheridan, estrela convidada para liderar o elenco como Henrietta, adoeceu durante as filmagens e faleceu em 21 de janeiro de 1967. Dos 26 episódios produzidos, Sheridan aparece em 21 — um agravante que tornou a continuidade da série difícil e condicionou seu destino. Ainda assim, a série circulou no imaginário televisivo da época e serviu de vitrine para nomes do cinema clássico em uma experiência televisiva leve e familiar. 

 

Quando o Oeste encontrou a telinha brasileira 

No Brasil, As Valentonas chegou em momento de expansão da televisão aberta e da consolidação da dublagem como prática cultural: com a TV Excelsior (canal 9 em São Paulo) apostando em séries estrangeiras para sua grade, a sitcom encontrou público nas tardes e sábados da virada dos anos 60 para 70.

A circulação da série não ficou restrita a uma única exibição: após a estreia original ela foi reprise por outras emissoras em diferentes épocas, sendo lembrada por muitos telespectadores das gerações que cresceram naquele período. A documentação sobre exibições locais (jornais de programação, anúncios e blogs especializados em séries antigas) confirma a presença da série na programação brasileira, ainda que os registros formais às vezes sejam dispersos — como é comum para exibições de séries estrangeiras da época. 

 

Vozes, estúdio e um ofício de transformação

A dublagem foi o elo que permitiu que As Valentonas se tornasse “popular” no Brasil: não apenas por traduzir as falas, mas por localizar o humor, ajustar o ritmo e dotar os personagens de traços vocais que conversassem com o público brasileiro.

No caso de As Valentonas, a versão brasileira foi executada por estúdio ligado à tradição da dublagem carioca — episódios da época costumavam ser trabalhados por casas como a CineCastro, Cinelab e Herbert Richers, oficinas brasileiras que consolidaram a prática no mercado. A CineCastro, em particular, é citada como um dos primeiros estúdios a trabalhar com séries e filmes para TV no Brasil; seus profissionais ajudaram a montar a sonoridade que o público reconhecia naquelas décadas.

A interpretação firme e espirituosa de Ann Sheridan como Henrietta Hanks encontrou na voz de Nelly Amaral o tom certo de autoridade e humor — uma tradução vocal que reforçava a imagem da matriarca destemida, sempre pronta para enfrentar os foras da lei de Wretched. Já Ruth McDevitt, com sua inesquecível vovó Effie Hanks, foi dublada por Lúcia Delor, cuja voz doce e expressiva realçava o tempero cômico da personagem, além de contar também com Glória Ladany em alguns episódios, mantendo a continuidade e a leveza da figura familiar. Carole Wells, como a jovem e graciosa Lucy Hanks, recebeu a voz de Neyda Rodrigues, que imprimiu frescor e vivacidade à neta da família, destacando o contraste entre a inocência e a coragem da moça. E fechando o núcleo principal, Douglas Fowley, o ranzinza e experiente vovô Andrew Hanks, ganhou contornos inconfundíveis na interpretação de Magalhães Graça, cuja voz grave e bem-humorada reforçava o tom sarcástico e divertido do patriarca.

O resultado foi uma dublagem que não apenas traduziu o idioma, mas adaptou o espírito da série ao público brasileiro, transformando os Hanks em uma família familiar, simpática e inconfundivelmente “nossa”.

Na prática, a dublagem de As Valentonas (assim como de outras comédias) exigia equilíbrio entre a comicidade física dos atores e as inflexões verbais. Dubladores veteranos como Nelly Amaral, Lúcia Delor, Magalhães Graça — vozes que aparecem nas páginas e fichas de elencos brasileiros — contribuíram para fixar personagens na memória coletiva: é a sua entonação que faz o telespectador rir, se alarmar ou simpatizar, muitas vezes anos depois da exibição original.

A tradução era, por sua vez, uma arte de negociação: preservar trocadilhos quando possível, adaptar referências estrangeiras e manter o timing da piada dependiam de roteiro de legenda/dublagem bem trabalhado e de intérpretes com senso de comédia. 

 

Por que As Valentonas ainda interessa?

Embora efêmera em quantidade de episódios, a série deixou marcas interessantes: primeiro, por mostrar uma inversão de papeis no gênero western — mulheres como protagonistas armadas, resolutas e bem-humoradas — antecipando (de forma leve) debates sobre representação de gênero na cultura pop.

Segundo, como documento do período em que filmes e séries americanas eram a matéria-prima das grades brasileiras, sempre reconfiguradas pela dublagem. A voz brasileira, nesse sentido, tornou a série não só compreensível, mas afetiva para um público que fazia da TV o seu principal espelho cultural nas décadas de 60 e 70. 

Além disso, o fato de Pistols ’n’ Petticoats ter sido a derradeira obra de Ann Sheridan empresta à série um valor de curiosidade histórica: é um capítulo final na carreira de uma atriz consagrada do cinema clássico, o que atrai historiadores do audiovisual e colecionadores de televisão antiga.

Nota do autor: Até a data de publicação desta matéria, não havia na internet um elenco de dublagem desta produção. As informações aqui reunidas são fruto de pesquisa própria, com análise dos episódios e identificação das vozes, e não de material copiado de outras fontes.
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Izaías Correia
Professor, roteirista e web-designer, responsável pelo site InfanTv. Também é pesquisador da dublagem brasileira.

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